sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Digital Eterna

Um pouco mais de filosofia. Novamente, penso em assuntos da existência...

Tu, não és tu verdadeiramente. Um dia verei quem realmente sou. Acordarei deste sonho e verei o real. A Bíblia afirma que, no evento da morte, o espírito volta a Deus; enquanto o corpo, ao pó. Ela não afirma que, o espírito dos bons voltam a Ele e que o dos maus não. Todos voltam à única Fonte. O verdadeiro eu é somente aquilo que a Deus volta, enquanto, o resto, são como pinceladas numa tela, numa folha de papel em branco que um dia despertou neste mundo.

Nós tivemos uma chance. De repente, nosso verdadeiro eu é envolvido por uma personalidade vivente e habitamos um corpo. Em outras palavras, uma essência coberta por uma casca física e psíquica.

Em outra ocasião, escrevi sobre o sentido do nascer. Relacionando o tema com a salvação do homem, conquistada por Jesus, perguntava-me: como poderia Deus, permitir um nascimento que um dia será lançado no inferno e sofrerá eternamente? Não seria melhor que o tivesse poupado? Naquela ocasião, conclui que poupá-lo seria mais cruel que o risco que se corre.

Partindo deste ponto de vista, a alma, seria viável a ideia de aniquilá-la ou separá-la eternamente. O verdadeiro “eu”, o espírito, se conservaria para sempre. Seria como manter o DNA, mesmo depois que o corpo não mais existisse e a alma, a vontade, a mente e emoções fossem apagadas.

Se este eu, esta essência, tivesse uma segunda chance, certamente, teria outra alma. Eis o porquê não ocorre. E a anterior? Perdeu-se completamente, como se nunca houvesse sido escrita. Por quê? Bem, as percepções, experiências e decisões (pessoais e sofridas), traçariam novas marcas, mesmo se tratando da mesma essência. E mesmo que a essência tenha o poder de gerar e promover traços semelhantes aos do eu que um dia foi, reviveria histórias distintas. Por isto, ela não seria reconhecida. O eu, a essência, é uma impressão digital espiritual (portanto única), eterna, que gera um registro vivente, uma alma também única.

Contudo, o mais interessante mesmo, é a ideia de que a alma pode ser conservada. Afinal, cada registro, cada alma, traz uma riquíssima soma de tudo o que se viveu e sentiu na terra. É uma jóia, um tesouro maravilhoso do qual jamais se poderia obter outro igual.

Vejo uma escultura feita na areia do mar. A mais bela, a mais perfeita. É uma pena que quando a maré subir, aquela obra de arte seja completamente apagada pelas ondas. É isto o que aconteceria com a alma de quem parte? Quão maravilhoso seria poupá-la!

Basta um coração de historiador para compreender esta dor. Qual deles não se comove com a destruição da Biblioteca de Alexandria? E todos nós somos como uma biblioteca.

Imaginemos Leonardo da Vinci, após concluir a Monalisa. Caso lhe fosse proposto lançá-la ao lixo, aceitaria? Entendo que, mesmo que ele lançasse, por um motivo ou outro, estaria convicto de que nunca conseguiria outra como aquela. Pintaria uma cópia registrada em sua mente e, de seu ponto de vista estético ou de outrem, melhor ou pior. Contudo, a primeira nunca se repetiria. É por isto que cada registro é tão precioso, afinal, sua unicidade o torna exclusivo e uma jóia rara no universo.

Não seria uma pena que tantos belos registros fossem simplesmente apagados? É em nossa alma, onde estão guardados os sentimentos, as lembranças, a dor, a beleza, a música, a poesia, a alegria... Toda esta soma faz o que pensamos sermos nós. Mas, eu seria somente minha alma? Obviamente, queremos salvar o nosso eu, pois, parece-nos injusta e absurda a ideia de que, um dia, desapareceremos como se nunca tivéssemos existido. Por algum motivo isto é assim. Queremos permanecer.

Uma folha de árvore também é única. Suas ranhuras são impressões que nunca se repetirão. No entanto, ela passará. Seu registro físico foi apagado para sempre, mesmo que, nunca um de nós tenha se dado conta. Ela estará gravada somente na mente de Deus. Nossa consciência não intervém neste processo. Será que há falta de amor nisto, de que ela se perca?

Agora, se o destino de minha alma é como o desta folha, cremos que seria cruel, apagá-la ou lançá-la ao fogo. Em algum lugar, precisamos crer que a folha que tanto amamos, esteja bem, esteja feliz. E que nós mesmos igualmente quando partirmos. Alguns desejam ardentemente que elas retornem melhores do que foram. E até mesmo, defendem que é exatamente por isto que ela passou por aqui. Desejamos o que amamos. Não queremos nos separar do nosso amor.

Mas, porque, normalmente, não amamos uma folhinha de árvore, não nos importamos se tantas a cada instante, em todas as eras, tenham passado por aqui ou continuem a partir sem que alguém se importe com isto.

Creio que Jesus entendeu quão precioso é este tesouro. Sua obra de remissão e salvação prevê conservar todos os preciosos registros que se possa. Contudo, haverá dos que serão verdadeiramente apagados para sempre. Crueldade? Falha da essência? Não, apenas questão de escolha de uma vontade que não se rende. E nisto, justifica-se o porquê da permissão de um nascimento, cuja alma será perdida. Ele acabará com as histórias mal escritas.

Os gritos de nossa consciência são clamores de nossa essência que apelam à própria alma. A essência sente o maravilhoso e sem igual projeto para o qual foi convocada.

Se o espírito volta ao Senhor que o deu, algo será preservado. Por isto, creio que não somos o que verdadeiramente parecemos ou pensamos ser. Eis ai um aspecto de sua misericórdia.

A sua verdadeira essência, sua digital eterna, voltará a Deus. Destas, haverá das que nunca mais interagirão com um mundo, exatamente como aqueles que ainda não nasceram. Permanecerão guardadas como um dia foi. A história foi apagada, a pintura lançada ao fogo, sua marca foi desfeita. Sua alma não foi digna de continuar, pois, obstinada, rejeitou o amor de seu Criador, d’Aquele que o amou primeiro.

Então, somos obrigados a amá-Lo? É claro que não. Somente somos advertidos de que, o mal cessará. E se sofremos, é uma prova de que nenhum de nós deseja que este mal permaneça. Queremos ser livres. Não há outra forma de alcançar liberdade, se não for através do seu Filho, chamado, Autor da vida. Exatamente porque não existem dois salvadores, um para as que escolhem a luz, outro, para as que escolhem as trevas. Ele nos deu uma chance de vivermos, interagirmos, pisarmos aqui. Ele nos dá uma chance de permanecermos.

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quebra-cabeça

Existem assuntos sobre os quais há muito tempo medito. Um deles, a minha vocação.

Um balanço destes anos, envolvido em Sua obra, fazem-me continuamente refletir: por que faço o que faço?

Admiro aqueles que, segundo minha observação, demonstram firme convicção de seus papéis e suas obras. Confesso que até mesmo hoje, sinto como um vazio em meu discurso. É como se eu ainda buscasse crer naquilo que faço, ou acreditar naquilo que devo fazer.

No que se refere a assuntos de salvação, creio compreendê-los. É verdade que senti genuína vontade de compartilhá-la. Diante do sofrimento humano, também senti genuína compaixão e o desejo de preencher as lacunas do que carece o mundo.

Como disse, sempre que me deparo diante de alguém que parece convicto daquilo que anuncia, admiro-o. Compreendo que tal pessoa entendeu algo que eu mesmo ainda não.
Diante desta situação, comecei a clamar por entendimento e, minhas palavras foram: “Faz-me entender aquilo que ainda não entendi”.

Com o passar do tempo, percebia que algo mudava na maneira como enxergava algo. Repentinamente, alguma coisa fazia real sentido para mim. Minha defesa já não era da boca para fora, no entanto, tratava-se daquilo que verdadeiramente cria e ardia em meu coração. A consequência imediata disto foi a necessidade de compartilhar. Daquele momento em diante, todos os meus pensamentos e ações passariam pelo clivo desta nova maneira de pensar.

Na caminhada também compreendi, não preciso buscar o mesmo entendimento que vejo em outrem. Isto porque tenho uma obra e uma função no corpo, diferente das de outros. Os assuntos os quais se me esclarecem ao coração não precisam ser necessariamente idênticos aos do meu irmão, mas, na medida necessária para a obra que compete a mim. Eis porque alguns vão aos judeus, outros, aos gentios.

Um dos exemplos mais marcantes desta mudança foi a compreensão de como realmente faria diferença no mundo. A busca do poder, antes almejado, como instrumento de promoção das transformações que julgava necessárias, pareceu-me na verdade, mais uma intenção velada de um coração corrupto e enganoso que buscava alguma notoriedade. A verdadeira mudança que eu desejava precisava primeiramente acontecer em mim.

Neste processo, entendi o que o apóstolo Paulo ensinou em trechos de suas cartas. Ele falava sobre dons, poderes, negações de si mesmo e coisas extraordinárias. Depois de citá-las, explicá-las e até mesmo, incentivar os cristãos a buscá-las, ele afirma: agora, mostrarei um caminho ainda mais excelente... o caminho do amor.

Depois daquele dia, percebi que nada é superior ao amor. Nada que pudesse fazer ou obter seria superior ao amor que pudesse sentir e demonstrar. Eis aqui um dos entendimentos que mudaram a maneira como passei a exercer meu papel.

Contudo, confesso, ainda não obtive todo entendimento que almejo. Ainda há um vazio que percebo no meu espírito, na consciência, acerca da minha vocação. Nem sempre estou convicto daquilo que gostaria. Muito do que peço não sinto ardendo dentro de mim. Tenho o discurso, mas não tenho o entendimento. É isto que chamo de vazio. Eu preciso preenchê-lo.

Quando aprendi acerca do amor, tornei-me liberto de mim mesmo. Tornei-me liberto de minhas ambições pessoais. Tornei-me liberto quanto ao resultado de meu próprio desempenho. Entendi que nada faria sentido, por mais extraordinário que isto parecesse, se não amasse.

Com isto, não quero dizer que nada mais importa. É claro que importa. Importa impor as mãos, importa ser canal do Seu poder. Contudo, o amor é combustível que mantém a chama acesa e o filtro pelo qual passam todas as minhas intenções e ambições.

Nestes últimos dias, voltei a sentir a necessidade de buscar o sentido da minha vocação. Voltei-me à Palavra. Senti que Ele falou comigo.

Invadiu-me a ânsia de conhecer, de saber o que faço. Atualmente, dedico-me ao pastoreio, e amo fazê-lo, mas, até mesmo ele, vez ou outra, parece-me um pouco vazio. É como se, de vez em quando, não entendesse o que faço. E, se porventura, tento defender sua importância, sinto-me pouco sincero.

Nesta busca, ouvi o que Ele diz através do Seu servo Paulo: que existe daquilo que conhecemos em parte, enquanto a outra parte, cabe-nos profetizar. Foi então que, ouvi do Espírito a direção: profetiza, pois, esta é a parte desconhecida ao homem. E é assim mesmo, pois, se soubesse tudo, não O buscaria.

A angústia que sinto é como daquele que anseia enxergar o objeto, mas somente vê a sua sombra. Ainda está escondido de mim. Contudo, conclui que não devo preocupar-me. A medida que possuo agora, mesmo que deseje mais, é a porção justa. E enquanto isto, seguir ouvindo e caminhando. Ouvir e caminhar até o momento em que enxergue verdadeiramente o que desejei ver. E neste caminhar, é inegociável que ame de todo coração, não se importando demasiadamente se ainda não tenho todas as respostas.

A vida não faz sentido se não for a manifestação da vontade de Deus. Esta conclusão foi para mim um marco, uma vez que, sempre temi render-me. Deixei de temer quando O conheci como a própria Sabedoria que tanto desejo e procuro. Descobri que de mim mesmo não tenho nada a oferecer. Descobri que meus pensamentos e interesses são tão insignificantes que não valem a pena. Quem mais conhece todas as coisas? Depois deste dia, um simples pedido faz-me refletir se porventura é um reflexo do Seu coração. “Seja feita a Tua vontade”, não me assusta tanto quanto antes. Porém, aqui confesso que ainda há um resquício deste temor, apesar do avanço. Falta-me render-me um pouco mais.

Maravilhoso foi descobrir o significado de sua Santidade. Ao contrário de mim, Ele seria incapaz de me envolver em planos, cujos propósitos fossem-me mascarados deliberadamente por falsas impressões. Ele não trabalha com segundas intenções. Ele é puro e sincero. Não há como desconfiar de Sua fidelidade.

O modo como alguns são chamados me fascina. A Moisés foi dito: tira meu povo do Egito. A Paulo foi dito: te pus como luz aos gentios. A Abraão foi dito: sai da tua terra. A Pedro foi dito: apascenta minhas ovelhas. E quanto a mim, seria isto que me falta?

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