quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ele se importa

Em certa ocasião, via algumas figuras dos planetas em escala. Inicialmente, parecia-me apenas curioso, depois, entendi que era muito mais que isto.

Aos poucos, a Terra desaparecia. A cada astro com que ela era comparada, tornava-se cada vez menor. A Terra ainda seria muito grande se comparada a um grão de areia na praia. Estrelas sobrepujavam o tamanho de nosso planeta que, não passava de um ponto quase imperceptível, até desaparecer por completo.

Uma janela abriu-se em meu entendimento: qual seria então o tamanho de Deus? E meus pensamentos, tentavam imaginá-lo até tornar-se um exercício mental insuportável.

Não somos mais que uma partícula de pó no universo. E, se porventura, pudesse conceber a dimensão do infinito, ela seria apenas uma nova partícula. É como se pudesse colocar o universo numa caixinha, e, em seguida, esta mesma caixinha fosse colocada dentro do universo, e assim, infinitamente.

A reflexão não parou ai. Após percorrer tantos anos-luz, retornei ao ponto inicial. Descobri que ainda não tinha chegado ao ponto insignificante. Ao olhar meu próprio corpo, não seria ele composto igualmente de células microscópicas? Em se tratando dos átomos, não seria eu mesmo comparado ao universo para eles?

Quando eu era criança, olhava os livros de geografia e fascinava-me o tamanho de Júpiter. Com certa inveja, eu me perguntava: por que não era a Terra também tão grande assim? Bem, hoje penso diferente. Entendi que não importa o tamanho que tivéssemos, ainda seríamos um ponto. Portanto, nossa importância não está em nosso tamanho, mas sim, no que significamos.

Mesmo sendo tão pequenos, Deus se importou conosco. Por isso deu o Filho. E eis que no universo havia um único átomo, que sofria uma interferência. E mesmo assim Ele se importou. Ele poderia ter passado de largo, mas sabia, enquanto uma simples poeirinha sofresse, o universo não estaria de seu agrado. Ainda há dúvidas de que Ele se importa com cada detalhe da vida?

Toda vez que se canta um louvor a Ele, ali, naquele canto da criação, estão os seus ouvidos, pois Ele se importa. Trecho do meu livro.

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Evangelho de João.

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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Corrida Maluca

De minuto em minuto, passa-se toda a vida. O mundo impõe a pressa do seu ritmo ao nosso viver. No entanto, nem mesmo o tempo se corrompe: nunca, um único segundo, atendeu alguma demanda em caminhar mais depressa.

De repente, nascemos e desembarcamos num lugar em que, primeiramente, herdamos. Um lugar estranho, construído pelos que nos antecederam. E logo, dita-nos as regras de como pensar, agir, ter e obter. Convence-nos e reprime-nos a uma louca corrida atrás de não se sabe bem o que, ou, aonde se deve chegar. Sob pena de sermos engolidos, conformamo-nos em aceitar seu ritmo. E hoje, já não vale muito um único idioma estrangeiro, ou uma única especialização, ou trabalhar também aos sábados. É sempre preciso mais. O mundo dita todos os dias quanto mais. O exigido hoje, é menos do que será amanhã.

Leia-se homem ao mundo. Os homens criam o padrão, após distanciarem-se o bastante. São inatingíveis, e isto, garante-lhes o status. E precisam continuar inovando, ditando o que se alcançar e sonhar. E como quem já obteve o que ostenta, divertem-se com a nossa admiração, e, quem sabe, nossa fadiga. O mundo que pronto está a me esmagar, é o mesmo que me afaga o ego. Hipócrita.

Nesta corrida, acostumamo-nos a passar por cima dos outros, mas não somente deles. Pisamos a ética, a honra e atropelamos o caráter. Afinal, são detalhes, são barreiras que, somente atrapalham... Esquecemo-nos que na vida, de tudo que se alcança, há do que se consegue exclusivamente com a ajuda de outros. Jesus ensinou: “Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á”. Como interpreto? Bem, ora recebo diretamente de Deus; ora me esforço; ora encontrarei em outros. E por que neles? Porque se eu mesmo pudesse abrir, não teria batido. E bater, é diferente de pisar... Neste sistema, daquilo que se nos abre, não teria sido dado diretamente dos céus a quem nos abriu? Bem, disto concluo: se chegou até nós, não seria então tudo vindo de Deus? Trecho do meu livro.

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sábado, 12 de dezembro de 2009

Sou homem como tu

De repente, encontrava-me numa antessala. Havia uma mesa sobre uma plataforma no centro. As paredes ao redor, revestidas de muitos detalhes, encantavam pela beleza, e, as colunas, uniam-se no alto umas as outras através de arcos. Deveras, tratava-se de um local magnífico e de muito esplendor, remetendo-me ao prazer estético. Minha missão naquele local me parecia pontual: eu deveria estudar o tecido de linho que, segundo dizem, fora o mesmo que cobriu o corpo de Cristo quando retirado da cruz - o Santo Sudário.

A sala ficava em nível rebaixado em relação à entrada. Caminhei em direção à plataforma e pedi para ver o Sudário. Um homem, atendendo a solicitação, desenrolou uma peça sobre a mesa. Olhei, e imediatamente percebi que aquilo não era o Sudário. Na verdade, fora-me exposta uma tela, onde se via, inúmeros quadrinhos, como num tabuleiro de xadrez. Cada quadro tinha uma figura, e suas cores eram muito vivas, onde o vermelho era a de maior abrangência e destaque. Um dos meus irmãos, o Raphael, acompanhava-me naquela visita. Enquanto eu tentava entender o que significava aquilo, uma vez que esperava ver o Sudário, afastou-se de mim meu irmão.

Rodeei a mesa, colocando-me em outra posição. Olhei para minha direita. Vi que havia uma porta numa das paredes, que era a entrada para outro cômodo. Encontrava-se semiaberta, por isso, observava o que acontecia lá dentro. A penumbra dominava o ambiente. Uma grande janela, que se estendia até o alto, permitia que raios de luz atravessassem suas frestas e dissipassem um pouco das trevas em seu interior. Em frente à janela, um homem em vestes brancas caminhava de um lado para o outro, e, atribui tal conduta, à preocupação. Naquele instante, como se uma seta de entendimento penetrasse em meu espírito, compreendi algo: aquele era o quarto do Papa; o homem em seu interior, ele próprio.

Enquanto eu observava a cena, Raphael, estendeu sua mão e tocou a parede. Quase que simultaneamente, eu o repreendi: “Cuidado, não incomode o Papa!”, disse com veemência.

Num momento em que me encontrava parado ao lado da mesa, um outro homem, de súbito, surgiu. Assemelhava-se a um frade, e seu aspecto transmitia violenta preocupação. Com uma das mãos, ele tampava sua boca e nariz, na tentativa de proteger-se do ar que respirava. Demasiadamente agitado, perguntou-me se porventura, eu ignorava o fato de que além da porta encontrava-se o quarto do Papa, retirando-se em seguida. E alcançou-me novamente a seta: de uma doença contagiosa, o Papa sofria.

Alguns instantes se passaram e o homem retornou. Trouxe consigo, estendida em seus braços, uma túnica vermelha. Entregou-a em minhas mãos, e, saiu apressadamente. Ao recebê-la, desejei vesti-la, e sai para um passeio pelo esplendoroso palácio. Eu me sentia feliz, e até certo ponto, divertia-me. Subi alguns degraus, e virei à direita, saindo daquela câmara. Caminhei pelo corredor, e no final dele, à direita, havia um posto de recepção. Nele, encontravam-se duas senhoras que, aproximando-me delas, com um ar de respeito e reverência, cumprimentaram-me dizendo: “Santidade...”

Quando as ouvi, disse: “Não se preocupem, pois lavarei antes de devolvê-la”, referindo-me à túnica que vestia. Olharam-se, e em seus lábios, discretos sorrisos, como se eu fizesse uma amável e singela brincadeira. Ao observar tal comportamento, atingiu-me a seta do entendimento pela última vez: verdadeiramente, eu era o novo Papa!

Por alguns segundos, refleti. Compreendendo minha posição, meu coração encheu-se de alegria. Eu gostava do que acontecia. Um sentimento de muito prazer preenchia minha alma. De repente, ouvi clamores, e meus olhos foram transportados para além daquelas paredes. Do alto, eu vi uma grande multidão reunida numa enorme praça defronte ao palácio, ovacionando-me e dando-me as boas-vindas

Deixei as senhoras, e, caminhando, adentrei em um grande salão, cuja parede a minha esquerda era de pedras e possuía aberturas como janelas. Jovens encostados nas paredes observavam minha passagem. Eu sorria e observava seus rostos. De início, estranhei por não vê-los ajoelhando-se, pois, imaginava, seria a atitude natural diante do Papa. No entanto, não era algo que eu desejava.

Ao chegar ao final do salão, havia três ou quatro degraus. Na iminência da descida, um homem correu ao meu encontro, reverenciou-me e ajoelho-se diante de mim, tomado de intensa emoção. Censurando-lhe a atitude, pedi que se levantasse depressa e afirmei: “Não te ajoelhes diante de mim, pois, como disse Pedro: sou homem como tu”. E o sonho acabou. Bem, no mínimo, um sonho bastante estranho para um huguenote. Trecho do meu livro, de um sonho que tive em 2004.

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