quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Os dois lados

Em muitas ocasiões, encontrei-me pensando o que significa existir. Lembro-me que, umas das primeiras vezes que este pensamento surgiu em minha mente, eu tinha uns cinco ou seis anos. Como sei disto? Bem, lembro-me exatamente do contexto.

Eu estava deitado, no mesmo quarto em que dividia com meu irmão. Logo, meus olhos fixaram-se na madeira da cama ao lado. De repente, tudo parecia ilusão, como se nada fosse real. Meu irmão, que se encontrava em sua cama, escutou-me comentar: “Às vezes temos a impressão de que não existimos, não é mesmo?” É claro que não expressei isto de maneira tão formal, mas era isto que eu queria dizer. E ele, com praticamente a mesma idade que eu, concordou.

Eu nunca mais esqueci aquela percepção. Muitos pensamentos passaram em minha mente desde então. Alguns deles, motivos de orgulho. Eu sentia que realmente concebera uma ideia original. Com o tempo, passei a escrever acerca de minhas percepções, e, quanto mais eu escrevia, também, mais me frustrava. A frustração era de que, toda vez que pensava ter obtido uma ideia original, vez ou outra, escutava alguém que se, não falava algo exatamente igual, no mínimo, muito parecido. Ou minhas ideias são muito simples, ou, quem sabe, tudo do que falamos tem origem em algo que um dia ouvimos e saímos repetindo inconscientemente como papagaios.

Como resultado, conclui que não importa quantas ideias possamos ter, pois, alguém, em algum lugar no mundo ou da história, já teria pensado a mesma coisa. Alguns afortunados escreveram sobre elas; outros, não se dando conta da importância de um entendimento, deixaram-no passar.

Um dos pensamentos sobre o qual me ocupei recentemente, fora: onde eu estava antes de estar aqui? Em outras palavras: onde eu estava antes ter nascido, ou, eu já existia antes? Comecei a pensar que outrora eu fora uma ideia, que um dia, materializou-se. Verdadeiramente conclui, através de alguma investigação mental, que poderia ser assim. Bem, quem sabe, seja isto mesmo. E é claro, eu seria uma ideia que estava em primeira mão na mente de Deus. No entanto, preciso confessar. Não estava tão preocupado em saber de onde vim ou se já existia. Preocupava-me saber para onde eu iria quando tudo acabasse.

Voltaria para o mesmo lugar? De repente estou, de repente, não estou mais. E quando não estiver mais, como seria para mim? Se é que seria alguma coisa. É fácil pensar no momento em que eu não estava. Não fazia a menor diferença. O mundo já estava aqui há muito tempo. Ele já girava. Não importava nada o fato de eu não estar aqui. Eu me importava de não existir? Bem, talvez não me importe quando aqui não mais estiver. Mas, de repente, eu era. Eu gostaria de saber, se, no que refere a mim, a realidade da entrada seria a realidade da saída? Um apagar de luzes? Não sei se estou me fazendo entender...

Seria assim a morte? Aparecemos na entrada e desaparecemos na saída? Ou será que transformamo-nos na entrada e transformamo-nos na saída? É uma ideia um tanto perturbadora. Não pelo medo de morrer, mas, pela fadiga do pensar.

E se minha vida é uma história, um registro, que no final, é apagado como se nunca houvesse acontecido? Exatamente como era antes de existir. Mas, aqui, vejo uma diferença do ponto de vista dos momentos... Meu registro apagado, não significaria apagar a minha memória, mas também, aquela memória, aquela marca, aquele traço, de todos quantos aparecem nas minhas páginas, mesmo que fosse num único instante. Isto significaria que muitas histórias estariam incompletas. Seria como recortar minha silhueta de uma foto entre amigos. Em contrapartida, toda vez que olhamos um retrato, deveríamos nos perguntar: não estaria faltando alguém aqui? Mas quem? Aquele que ainda não nasceu...

E se há inferno? Então, admitiria que uma ideia dEle fosse parar lá? E se há céu? É melhor que eu lá esteja. E mesmo que, um daqueles cuja história entrelaçou-se a minha, eu não encontre, a fotografia estará incompleta. E me perguntarei? Onde estará? Quem sabe, seu registro tenha sido lançado no fogo. Mas, se isto aconteceu, é obvio que sua história não fora totalmente apagada, uma vez que nossos laços denunciariam seus vestígios nas páginas da minha existência.

Proponho duas soluções: A primeira, queimar a todos. Deste modo nada sobraria. A segunda, fazer tudo absolutamente novo, sem lembranças, sem histórias. Mas, se for assim, aquele seria eu? De qualquer forma, se isto acontecesse, eu teria mesmo desaparecido, sido apagado, de uma forma ou de outra.

Mas, é claro que não me importaria. Seria como se tivesse nascido no céu, e precisaria aprender e começar tudo de novo, não me dando conta disto, nem do que passou. E daí, eu pergunto? Por que a etapa terrena? Poderia ter nascido no paraíso...

Portanto, quem sabe, tudo não passe de um sonho mesmo. E a realidade que sonho agora, é algo diferente daquele quem realmente sou. Daí, no dia em que despertar, verei a mim. Não me importará que tudo tenha passado, e não terá sido um pesadelo a ideia de não ser mais quem eu sempre fui. Isto porque, quando o dia chegar, estarei consolado e feliz de que finalmente tenha acordado.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A casinha rosa chá

Há algum tempo, perguntava-me acerca do porquê as coisas são como são. É claro, algumas coisas entendemos, ou, pelo menos, pensamos que entendemos. Quando passo pela rua, e vejo uma casa pintada de rosa chá, normalmente, não me perguntaria o porquê dela ser assim.  Obviamente, alguém a teria pintado daquela cor e pronto. É por isto que ela é rosa chá.

Existem milhares de motivos que levariam alguém a escolher uma cor. Se perguntasse às pessoas sua opinião sobre isto, a maioria concordaria que fora uma questão de preferência. Mas, mesmo as preferências têm seus motivos... O fato é que, uma casa nunca é pintada de rosa chá sem que um motivo mais complexo exista por trás deste “simples” fato.

Toda escolha, portanto, trás embutida em si, uma história. A casa rosa chá faz parte dela. Mas, como pensar nestas coisas é demasiadamente cansativo para muitos, acostumamo-nos a dizer: questão de gosto.

Uma reflexão nesta linha sofre muitas críticas. Que importa na prática, saber ou não, por que uma casa fora pintada de rosa chá? Como afirmei, são detalhes para os quais a maioria faria vistas grossas, pelo simples motivo de lhes parecer não servir para nada. E assim, filtramos o entendimento das coisas da vida pelo critério da praticidade e usabilidade. Faríamos o mesmo, caso, no lugar de uma casa, trocássemos nosso objeto rosa chá, por um ser humano? Agora, creio que conseguirei um acréscimo no número de interessados na questão.

Não me interessa saber o porquê de uma casa ser rosa chá, azul, ou verde. Ela está lá, na rua onde passo todos os dias, e isto, não tem a menor relevância. Aliás, o que importa mesmo, é o fato dela proteger e dar abrigo à família que lá habita. E esta também é uma dentre tantas opiniões.

No entanto, tenho de admitir, a casa não é rosa chá sem que haja um motivo para isto, seja esta percepção relevante ou não. Bem, se não é relevante, então, por que me preocupar? E se for relevante, por que ainda não nos damos conta? E no caso de não ser relevante, como posso afirmar isto, com certeza, já que provavelmente, emito esta opinião à partir de meu próprio julgamento do que é ou não é relevante? Bem, caso algo para mim não tenha a mínima importância, isto não quer dizer que não tenha importância para a pessoa que decidiu que a casa fosse pintada de rosa chá. Certamente, algum motivo especial levou-a a ser pintada assim. Logo, concluo que, esta discussão é ao mesmo tempo absolutamente relevante, mas absolutamente irrelevante, dependendo do ponto de vista observado.

Parto da premissa de que aquela casa rosa chá não me é relevante. Em outras palavras, é algo que não me interessa. E se não me interessa, é porque uso o filtro da praticidade e da usabilidade. E neste caso, se não me serve para nada, então, não estaria sendo indiferente, ou, quem sabe, egoísta? Como poderia desprezar o meu próximo, crendo que o motivo que o levou a pintar sua casa de rosa chá, é algo muito pouco importante? Sinto que acabo de desrespeitá-lo, mesmo que ele não saiba nada sobre o que penso sobre a cor de sua casa.

Agora, constato que a casa já começou a ter importância para mim, uma vez que mergulhei nestes pensamentos, que, diga-se de passagem, já tomaram um tempo de minha vida. Quem sabe, a importância que damos as coisas esteja relacionada com a percepção de que elas existem e porque pensamos nelas.

E se eu presumisse o contrário? Se a cor da casa me fosse importante, então, é claro que talvez houvesse um sentido para isto. Das inúmeras respostas (excluindo-se a que todos diriam: eu gosto de rosa chá), talvez sentisse prazer em vê-la bem na minha rua. Ela deixa a paisagem muito bela, e isto é bom, pois, valoriza do ponto de vista estético a região onde moro e, logo, do ponto de vista mercadológico. E aqui chegamos a um ponto comum: não importaria se a casa fosse ou não importante, no final, revelo meu egoísmo.

Sim, eu sei que a casa me é importante. Ela embeleza o local onde moro. Talvez, se fosse azul celeste, não combinasse com os demais imóveis da rua. E daí, eu desejaria que ela tivesse outra cor. Mas mesmo esta constatação, estaria baseado no valor subjetivo que dou ao azul celeste. Quem sabe, caso as demais casas trocassem suas cores, o azul celeste até que não ficaria tão ruim. Não, não. Definitivamente, não gosto do azul celeste. Até que...

Um dia me peguei usando a casa do vizinho. Meu visitante perdeu-se no bairro, mas logo, encontrou onde eu morava. Disse-me: lembrei do que me disseste, sobre a rua com a casa azul celeste da esquina... E foi aquela casa azul celeste, que eu tanto detestava, a melhor referência que encontrei. Agora ela faz parte da minha vida, e, por mais que seja difícil admitir, a lembrança de que ela está lá me deixa feliz.

E é verdade que, no dia em que a casa foi pintada de rosa chá, preocupei-me sobremaneira. Afinal, ela se tornara uma extensão de meu próprio endereço, do meu abrigo, do meu cantinho, da minha futura casa azul que lembra o céu.

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma aula de saltos e voos

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Romanos 12:1-2, Almeida RA.

O Apóstolo Paulo, em sua epístola dedicada aos Romanos, faz um apelo aos cristãos: “Irmãos, pelo amor de Deus...!”, paráfrase minha. Após 11 capítulos, o apóstolo abre parênteses, e apela aos destinatários de sua carta.

O apóstolo sabia que, sua recomendação, uma vez atendida, levaria seus irmãos a alcançar novo patamar em sua vida cristã e, a colherem um dom. Rogando, pelas misericórdias de Deus, pede:

“...apresenteis o vosso corpo por sacrifício...”

Neste trecho, a palavra “apresenteis”, no original grego, é a palavra parastêsai. Esta era a palavra que, definia, o ato de exibir, prover, pelo sacerdote, diante do altar, o animal para um sacrifício. Percebe-se, pois, que, o apóstolo, no momento em que escrevia este trecho da carta, tinha em mente uma cerimônia nos moldes dos sacrifícios oferecidos no Antigo Testamento.

O apóstolo rogava que deveríamos nos “parastêsar” diante do altar de Deus. Este ato, segundo ele, santo e agradável ao Senhor, constituía-se no que designou de “culto racional”.

A palavra “racional”, no texto, é a tradução da palavra grega logikên, da qual deriva ainda a palavra lógica. É como se o apóstolo diferenciasse aquilo que se definiria como um “culto espiritual”, de um culto racional.

Como culto espiritual, talvez se entenda a ministração onde fluem os dons espirituais, a profecia, os dons de línguas, as interpretações, os cânticos, as manifestações de poder, etc. E sobre os dons e a maneira como deveriam se manifestar na igreja o apóstolo também escreveu em outras ocasiões.

O culto racional, como culto, ou seja, ministração ou serviço a Deus, também era entendido pelo apóstolo como uma manifestação de caráter lógico. Entendo que, o desejo de Paulo, era que os cristãos entendessem, tomassem uma decisão lógica de apresentar-se, dispor-se fisicamente ao serviço de Deus. E isto não necessariamente consistia em algo espiritualizado, já que um anjo do céu, por exemplo, não era necessário aparecer para que compreendessem que agora, era importante arregaçar as mangas e caminhar.

Talvez Paulo tivesse motivos para crer que, alguns cristãos, não estavam se movendo, ou temesse que isto ocorresse: ou por preguiça, ou comodismo, por ignorância, ou seja lá o que fosse. Na visão de Paulo, a inércia, deveria ser vencida, mediante o “parastêsar”, pois, como poderiam os cristãos alcançar as coisas espirituais, caso não se submetessem a ministração da Igreja? É por isto que Paulo apelou. Em sua visão, todo ato em direção a Deus, também é uma espécie de culto.

Uma vez o corpo à disposição, agora, restava ainda o tratamento da mente. Na sequência, o apóstolo mais uma vez recomenda:

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos...”

A palavra “conformeis” é a palavra grega suschêmatizesthai. Ela dá a conotação de “a forma semelhante” ou, “de acordo com um padrão”. Parafraseando, eu diria que o apóstolo exortava-os a não seguir a moda do mundo.

O caminho alternativo sugerido pelo apostolo foi “transformai-vos”. Aqui, uma observação é importante: a transformação é intima. Em nenhum momento, o apóstolo disse que os cristãos deveriam mudar os costumes do mundo sobre os quais ele pedia que não se sujeitassem.

A palavra grega original para “transformai-vos” é metamorphousthai. Herdamos muitos dos radicais gregos para o português, logo, a palavra metamorfose (mudança de forma), é derivada deste termo. Tal, emprega-se comumente na biologia, para designar, por exemplo, o processo de transformação física que alguns animais passam entre a fase juvenil e a fase adulta. Talvez o exemplo mais clássico, seja a metamorfose de uma lagarta em borboleta.

Apesar de não estar se referindo a uma transformação física, o apóstolo utiliza o termo, tornando no original, ainda mais claro o processo de mudança que ele pretendia que cada crente vivenciasse.

De maneira brilhante, fez-se neste pequeno trecho, um paralelo entre o que se esperava de seus leitores: conformar, segundo o mundo, seria o mesmo que esculpir num pedaço de madeira uma peça qualquer, dando-lhe forma, no entanto, ela continuaria sendo madeira. Ao contrário, transformar-se, era aos seus olhos, como aquele que contemplando uma borboleta, duvidasse que um dia fora um animal tão estranho. Conformar não passaria de uma maquiagem, enquanto, transformar, implicaria numa cirurgia plástica radical. Este era seu apelo.

E é verdade que, somente as borboletas alçam voos e conhecem mais flores. Somente os sapos dão saltos. Lagartas e girinos passariam toda uma vida de reduzidas possibilidades. Talvez esta seja umas das respostas do porquê, alguns cristãos, parecem-nos alcançar tanto e outros, tão pouco.

Mas, como alcançar isto? O apóstolo ensina o modo: “pela renovação da vossa mente...”

Os cristão deveriam, submeter-se integralmente (corpo, alma e espírito), permitindo que o modo como pensavam fosse radicalmente transformado pela ministração da Palavra de Deus. Note-se que renovação é ação contínua.

Paulo não recomendava coisas a esmo. Tudo isto tinha um objetivo, que o deixava extremamente entusiasmando: “para que experimenteis qual seja a... vontade de Deus”.

Imaginemos então o tom em que o apelo fora feito. Nada mais, nada menos estava em jogo que a experimentação, por parte da Igreja, da própria vontade de Deus. Experimentação esta que dependia da disposição pessoal em se apresentar diante de Deus e permitir que suas mentes fossem transformadas.

O mesmo Paulo não sabia qual era a vontade de Deus, por isto, escreveu: “seja qual for...”. No entanto, ele, de uma forma amorosa dá indícios de como ela é: “...boa, agradável e perfeita...”. Neste processo, entende-se que, a vontade de Deus, antes de ser conhecida, ela é vivida. Ela é experimentada, dia após dia, renovação após renovação, toda vez que, alguma coisa mudada em nossos pensamentos, coloque-nos cada vez mais perto de Deus, e mais longe do pecado. Ministração no culto de Juniores e Adolescentes em 13/11/2010.

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Carta a uma feminista

Carta à sra. Doris Margareth de Jesus, representante da UBM (União Brasileira de Mulheres) no Paraná. Esta carta foi baseada em debate com sua participação, pró-aborto, veiculado pelo programa Plano Geral da TV SINAL.



Boa tarde sra. Doris Margareth,

Primeiramente, gostaria de parabenizá-la por ser avessa à pratica do aborto. Por que penso assim?

Bem, logo no início de sua fala, no programa Plano Geral, da TV SINAL, veiculado em 18/10/10, a sra. incluiu-se a si mesma, àquelas cuja bandeira é a "liberdade" de escolha sobre seu corpo e sexualidade. Contudo, tratou imediatamente de deixar claro ao público que, apesar da auto-inclusão, nunca antes cometera um aborto.

Penso que, se considerasse esta uma bandeira tão nobre, seu esclarecimento (que expressou tamanho pudor), seria desnecessário. Lembre-se: o corpo fala. Mas vejo que tentou se desligar de uma prática que em seu interior julga reprovável.

Não desejo apontar o dedo e criminalizar ninguém, mas, reafirmar nossa liberdade com o maior exemplo dela já demonstrado, reafirmando: "Eu também não te condeno. Vá e não peques (erres) mais".

O meu apelo é para que, deixe este sofisma de "liberdade" sobre o próprio corpo, liberdade de "direitos". Não cabe a outro decidir se um ser humano deve morrer. Sabe o porquê? Porque ninguém é dono de uma vida que não a sua, e, até mesmo esta, em parte. Portanto, não se deve manipulá-la como se proprietário dela fosse.

O discurso pró-aborto é uma bandeira falida, porque é baseado no egoísmo, no amor próprio e na irresponsabilidade. É baseado na falta de caráter em assumir, na maioria dos casos, um compromisso pela consequência de sua própria escolha.

Acerca da tal sexualidade reprimida da mulher comentada, faz-me sentir como se procurasse um meio de se parecer com um homem. Na verdade, homem da pior espécie. Sra. Doris, homens são homens, mulheres são mulheres. E um homem de verdade não é somente um homem porque possui um falo. Aqui, refiro-me a caráter.

Seus argumentos levam as mulheres a se nivelarem por baixo, o pior padrão. Mulheres não merecem isto. Como sustenta a ideia de que o homem tem mais privilégio quando sai para uma "balada", onde é capaz de tantas transas que quiser, e a mulher, leva desvantagem nisto pelo risco de gravidez? Por que não se prega mais respeito e dignidade na prática de sua sexualidade? As mulheres e os homens são igualmente especiais, e cada um tem papéis que cabem somente a um ou a outro. Nisto, a própria natureza conspira contra seus argumentos feministas, e pouco femininos.

Também falou acerca do grau de desespero em que uma mulher encontra-se, a ponto de cometer um aborto. E eu concordo com isto, pois, quem em sã consciência desejaria tal catástrofe para si e para outro? Perceba que confessa que o aborto é fruto de uma mente perturbada, um coração destruído e desesperado. Não há raciocínio, não há controle, não há sensatez. Oxalá estivesse alguém que desse amor, ao lado de cada uma destas mulheres, nesta hora de tamanho desespero.

Encontro algo estranho em tudo isto. Por que não se investe em evitar que uma mulher chegue neste ponto triste e crucial? Por que esperar pela descriminalização para que venha acompanhada de campanhas de conscientização? Por que não se faz tais campanhas independentemente desta descriminalização?

Eu sinto que existem forças que, conscientemente, levam a sociedade para a beira do abismo no que diz respeito a este tema. Lá, será mais fácil fazer-nos crer na falsa ideia de solução pela descriminalização. É o pau de arara. Diz-se, nele, entrega-se até a mãe. Não, nós não precisamos chegar à beira do abismo, se é que já não chegamos.

Guardadas as devidas proporções, permita-me uma comparação: Se numa sociedade as pessoas estão extraindo mais dentes estragados, creio que a solução não é investir em mais consultórios odontológicos e formação de mais profissionais dentistas. Se numa sociedade, o número de cirurgias bariátricas cresce assustadoramente, creio que a solução não passa em preparar o SUS para que se atendam tantos casos quanto necessário. Não podemos pensar em tais problemas como simplesmente um problema de saúde pública.

Mobilização e ação inteligente deveria, primeiramente, levar-nos a indagações: por que tanta extração? Por que tanta cirurgia? Quem sabe, assim, descubramos que a causa de tais problemas sejam os maus hábitos de alimentação, o consumo exagerado do açúcar, a ingestão exagerada de carboidratos e gorduras. Uma vez conhecido a causa, promovem-se políticas públicas de educação. E é claro que isto é mais inteligente do que no futuro se distribuir insulina.

A prevenção é melhor caminho que a intervenção, pois, a ignorância é insaciável. Precisaríamos de menos dentistas se nosso povo fosse mais educado. Estimular a extração de um dente estragado resolveria um problema estético, a dor física, mas o vão e a dor estarão naquele corpo pelo resto da vida de uma mulher, não importa quantos pinos ou quanto amálgama se coloque lá para escondê-lo. Refiro-me a um vão interior.

É mentira que o governo se importa com morte de mulheres negras e pobres que cometem aborto. Se fosse verdade, o governo teria atendido estas mulheres, dado atenção, desejado saber o porquê de terem cometido um ato extremo de implicações inimagináveis contra si mesmas e um filho. Teria procurado ajudá-las para que não acontecesse mais. O governo não se importa.

Se o governo sabe com tanta precisão quem sãos as frágeis vítimas, as mulheres negras e pobres, já teríamos políticas públicas de prevenção e agentes comunitários em ação em todo lugar neste país onde existem mulheres negras e pobres. Isto eu ainda não vejo acontecer. Só ouço o grito das crianças assassinadas, a bandeira falida das feministas e a miopia governamental do problema de saúde pública. Onde estão as feministas? Por que não se mobilizam para ajudar estas mulheres? Vamos! Percorram os guetos onde estão as mulheres negras e pobres! Quanta dor poderíamos evitar. No entanto, mulheres que defendem o aborto creem que menor será sua culpa, quanto mais politicamente correto a questão se transformar. Aqui há engano. Anestesia são para os corpos, não para consciências.

Existe uma lei interna e universal a favor da vida em todo ser humano. Alguns chamam isto de consciência. Não existem mulheres cujas leis internas lhes sejam favoráveis, que as façam se sentir melhor ou menos culpáveis após um aborto. Não importa o que digam as leis civis ou criminais de um país. Estas leis são independentes, e muitas delas, hoje escritas, estão baseadas na lei que por gerações, estão contidas no inconsciente senso de justiça e bem que a humanidade possui dentro de si.

Não importa o motivo que leve uma mulher a cometer um aborto. No final, sua consciência lhe dirá que não valeu a pena. Será como resolver um "problema" substituindo por outro. Troca-se um vazio físico no útero por um vazio emocional. Um ser humano, nunca será abortado de verdade, pois, ele continuará lá, preso para sempre no coração e na alma da mulher.

Ainda, sobre seu questionamento sobre se esta lei interna, já não seria suficiente, eu concordo contigo. Seria suficiente sim. Seria suficiente se as pessoas fossem capazes de respeitar esta lei natural. Mas não são. O ser humano prostitui sua consciência, tem seu preço, vende-se por egoísmo, prazer e até medo. Medo de morrer.

Agora, como sabemos, existem daqueles que infrigem a lei interna. Por isso, é preciso assegurar, proteger por meios legais o direito à vida de quem não pode se defender. A lei não pode garantir vida, isto foge ao total e completo controle humano, mas pode garantir seu direito.

Ora, se assassinato é crime, como creem ser válido a descriminalização do aborto? Como podemos dizer que não é crime um crime? Um óvulo fecundado não é simplesmente uma "expectativa de vida" como disseste sra. Doris. E ele pode viver sim fora do corpo da mãe, feito num tudo de ensaio, ou congelado em nitrogênio líquido por décadas. Ele só precisa de um lugar para crescer.

Este é, sem sombra de dúvidas, um ser vivo. Conseguiria porventura criar por conta própria nem que fosse uma única célula? Existe dúvidas de que ela é viva? Então, que significa destruí-la? Por menor que seja um ser humano ele precisa ser respeitado. No entanto, a exploração desta dúvida sempre haverá. Então, eu escolho a vida, pois, enquanto houver dela, haverá esperança.

Assim, é preciso protegê-la do egoísmo, da falácia e do sofisma da proteção da vida pela morte, eufemismo barato, disfarce da busca irresponsável do prazer pelo prazer sem compromisso no discurso da sexualidade.

Sra. Doris, ainda há tempo de se arrepender. Entenda que eu também não te condeno. Vá e não peques mais.

Respeitosamente,

Cléber C. FERNANDES

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

E agora, José ou Jesus?

A vida é toda cheia de escolhas. Escolhemos a esquerda, a direita, a vanguarda ou a retaguarda. E, se ainda não nos bastasse, permanecemo-nos parados. Escolher é comprometer-se com o caminho sobre o qual trilhar. Escolher é medir certezas e incertezas. Escolher é utilizar-se de balança. Com ela, emitimos um parecer acerca do risco envolvido. Escolher é assinalar um X tal qual treliça...

O processo de decisão envolve muitas variáveis. O medo é uma delas. Entretanto, não me refiro àquele sentimento que nos alerta do perigo. Este, eu costumo chamá-lo prudência. Escolher não é algo fácil... “E se eu escolher a direita ao invés da esquerda, o que haverá no final deste caminho? Qual será o resultado desta decisão? Qual será a melhor opção? Esta é a melhor escolha?”

Dúvidas, dúvidas e dúvidas. A dúvida opõe-se à fé. A fé é certeza, a certeza das coisas não vistas. Onde se encontra o medo, encontra-se a dúvida. O medo não permite que se deem passos. Que é o medo? É poliomielite na alma... É uma pena que vacinemos somente corpos.

O progresso e os sonhos são incitados pela fé. O medo paralisa, esconde e não permite avanço. Ambos, fé e medo, trabalham de maneiras opostas. Quanto às escolhas? Eis que continuam na fila de espera. Aguardam um parecer, uma decisão. E o tempo corre. Ao levantar-me pela manhã, o mundo diz: “Bem-vindo ao jogo das escolhas! Esta é sua primeira: levantar-se ou dormir mais um pouco? E então? Ainda aguardo! TIC-TAC-TIC-TAC... O tempo passa!”.

Tão difícil não pareceu. Mas, e as outras durante a vida: abortar ou deixar viver, este poetinha, que ainda não escreveu nenhuma linha... A vida é um jogo de escolhas, e cujas escolhas exercerão influências sobre os que vivem e os que ainda hão de nascer.

Uma decisão é como uma bomba detonada no centro de uma rede social. Para mim, as melhores escolhas são aquelas que, representarão ao mesmo tempo, como resultado, o mínimo impossível e inimaginável de prejuízos e o máximo impossível e inimaginável de benefícios. Se eu pudesse nomeá-la, diria que se trata de uma decisão “perfeita”.

Em se tratando de coisas perfeitas, os pensamentos de Deus são perfeitos. Ele conhece o final de todos os caminhos. Ele conhece o resultado de todas as escolhas. Ele sabe tudo! Optando pelo conselho de Deus, não corro risco de me confundir, já que, erros resultam de escolhas mal feitas. Um erro foi uma aposta mal sucedida. Não erramos porque gostamos de errar.

Na vida, dentre tantas possibilidades, deveríamos atentar para os pensamentos de Deus, sinônimo do perfeito. Os conselhos de Deus são caminhos abençoados e já aprovados. Trilhá-los, levará o homem ao encontro do mínimo impossível e inimaginável de prejuízos e o máximo impossível e inimaginável de benefícios. E não nos enganemos: aquele que segue o conselho de Deus não é a marionete tolhida de sua própria vontade. Contudo, é aquele que trilha o caminho que escolheria se soubesse seu fim. E o propósito de nossas vidas? Viveremos, se tão somente o escolhermos.

Quanto aos que se bastam, não experimentarão daquilo que há de mais sublime. São como aqueles a quem se lhes preparou o mundo, porém, passarão sua existência a vagar... Vagar pelo quintal da vida. Tudo porque, não conhecem os pensamentos do Pai. Escrito por Cléber C FERNANDES.

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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A lição bovina do coração

Final de tarde, sol se pondo. E lá estava ele, sentado sobre a cerca de madeira, tomando o tempo da vaca...

[...] Tu és tão sábia... Eu gosto tanto de conversar contigo...

- Falando deste jeito até me fazes sentir importante!

- Eu também queria ser sábio...

- Esta é uma das maiores demonstrações de apreço que se pode oferecer. É quando queremos nos parecer com alguém.

- Então tu achas que quando eu for grande serei sábio como tu?

- Bem, isto depende de uma coisa fundamental.

- Que coisa?

- Olha, não sei se posso te ensinar isto.

- Que é? Por favor, ensina-me!

- Está bem, está bem... Afinal, se tu não puderes aprender isto, então, não sei mais quem poderia.

E o menino inclinou-se em direção à vaca para ouvi-la.

- Ouça bem... O que te fará sábio ou não, dependerá do lado em que estará teu coração.

- Como assim? Só existe um lado do coração. Eu aprendi na escola que o coração fica do lado esquerdo!

- Sei, a escola...

- Que cara é esta? Não me diga que eles me ensinaram errado...

- Não, não, eles te ensinaram certo. Só não te ensinaram tudo que tu precisas para ser sábio de verdade... e nem poderiam mesmo.

- Tu és mesmo muito misteriosa...

- Mas sabedoria que tu desejas, te tornará apto para entenderes os provérbios e parábolas, as palavras e enigmas dos sábios!

- Que quer dizer com o lado em que está meu coração?

- Bem, anatomicamente, o teu coração situa-se no lado esquerdo do peito. Logo, um coração que tende ao lado esquerdo, não faz nada mais além do que exercer um movimento natural, um comportamento cômodo. Pouco natural é um coração inclinar-se para o lado direito, contudo, este é o sinal daquele que alcançou a sabedoria.

- Este é um sinal de quem alcançou a sabedoria..., repetiu o menino. Uau! Eu nunca tinha pensado nisto antes! Onde foi que aprendeste isto?

- Eu também tenho meus mestres meu caro!

- Conta-me mais!

- Imagine: um coração que tende à direita, é um coração que busca avançar em algo que lhe parece novo, e até certo ponto, desconfortável. Um coração que tende à direita, busca conhecer algo que ainda não conhece ou conquistar algo que ainda não conquistou.

- Ai, ai, ai... Esta parte me entristeceu!

- Ora, por quê?

- Porque ainda não conheço muitas coisas e ainda não consegui nada na pouca vida que já vivi.

- Se eu posso te consolar, não importa nada disto, pois há tempo para todas as coisas. E seu tempo ainda não chegou.

- Então não estou atrasado?

- De maneira nenhuma!

- E como posso saber que cheguei ao tempo certo?

- O tempo certo, é aquele no qual o coração alcançou o entendimento de que precisas para agir.

- E como é este tal entendimento?

- Ele é um raio de sol que aparece quentinho, mesmo que seja noite. Quando isto acontece, tu sentes que tua cabeça relaxa, aquece-te o peito, tuas sobrancelhas se levantam e teus lábios esboçam um sorriso. Depois, isto te faz feliz por encontrar um tesouro escondido.

- Tu falas coisas bem estranhas... mas é gostoso te ouvir. Conta-me mais!

- Está bem... voltemos ao assunto: Tu, em tua natureza, tens teu coração à esquerda. Ele tem dificuldades com coisas novas, por isto, a Sabedoria afirma: “E ninguém tendo bebido o vinho velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho”. Assim, a Sabedoria expõe a tendência do seu coraçãozinho.

- Eu estou impressionado... Eu acho que é por isto que eu destesto ir à cidade calçando sapatos novos. Eles apertam meus dedos e machucam meus pés! Mas, tu não me entenderias... Tu tens cascos.

A vaca, de olhos cerrados, emudeceu. No entanto, ela também sabia onde é que seu calo apertava.

- Ei! Ainda não entendo como isto pode me ajudar, disse o menino.

- Eu sei, eu sei meu amigo... tal dificuldade não me é estranha. No entanto, aprenda uma coisa: Um dia, o que é novo se tornará velho, e o que for velho chegará ao fim. E aqueles que se contentam somente com o velho, sem preparar algo novo, no futuro, não terão nenhum dos dois...

O menino sorriu. Saltou de um impulso a cerca e saiu correndo em direção à casa.

- Ei menino! Aonde é que tu vais?, perguntou a vaca estupefata.

- Desculpa, tenho que ir! Preciso jogar fora meu velho par de sapatos furados!

- Está bem! Mas cuidado, vá pela direeei... cuidaaado!

Infelizmente não houve tempo. O menino cravou seus pés no morrinho de estrume. Diante da cena, a vaca lamentou:

- Coitadinho, eu bem que tentei avisá-lo...

Inspirado em Eclesiastes 10:2. “O coração do sábio se inclina para o lado direito, mas o do estulto, para o da esquerda”.

*Na cultura judaica, há um conceito espiritual: as coisas santas estão relacionadas ao lado direito, enquanto que, o lado esquerdo, as opostas à santidade.

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Todo mundo quer ser vaca

Aconteceu lá pelas bandas da Normandia, nos tempos do meu exílio...

- [...] Tu não gostarias de ter nascido vaca como eu?

- Eu acho que não... ser vaca deve ser bem monótono. Tu ficas aí, o dia inteiro, olhando para o horizonte. Ora come um pouco de grama, ora caminha até a cerca e depois volta. Não há grande vantagem em ser vaca.

- Tu tens razão, minha vida é bastante monótona, mas não posso reclamar. Na verdade, eu até que tenho sorte. Eu dou leite. Existem algumas amigas que não têm a mesma sorte.

- Eu não sabia que as vacas tinham sorte..., retrucou o menino.

- Têm sim, meu caro. Algumas de minha classe, quando atingem certo peso, são mortas para que os de sua classe comam carne. E então? Ainda acha que não tenho sorte?

- É mesmo, tu tens muita sorte de que nós precisamos de leite.

- Eu sei... de leite e de queijos também. É por isto que não posso reclamar. É a vida...

- Mas o que vai acontecer contigo no dia em que teu leite secar?

- Olha, não quero nem pensar nisto. Por favor, não me assuste!

- Desculpe, não queria te assustar.

- Tudo bem, eu sei que não tinhas esta intenção. Ai, ai... eu gostaria mesmo é de ser uma vaca indiana.

- Por quê? Não te sentes feliz em ser uma vaca leiteira destas bandas?

- Bem, vaca indiana é muito melhor. Uma vaca na Índia tem status de rainha. Ninguém pode tocá-las, pois são sagradas.

- Sagradas? Como assim?

- Na Índia, as vacas são respeitadas. Toda vaca gostaria de ter nascido indiana, porque, embora sejamos todas vacas, somente na Índia alcançamos o respeito que merecemos.

- Entendo...

- Não, tu não entendes. Somente uma vaca entenderia.

- Por que te consideras tão sábia?

- Amigo, tu és ainda muito menino. Quando tu fores grande, entenderás o que digo. Todo o homem gostaria de ser uma vaca indiana.

- Ah não, eu não quero ser nenhuma vaca! Estou muito satisfeito como menino, mesmo que não conheça muita coisa.

- Tu que pensas meu caro. Quando eu acordo pela manhã, e vêm tirar meu leite, ouço muitas histórias.

- Que histórias?

- Bem, vou te contar algumas. Sabe, um dos que me ordenham, disse que se tivesse condições, teria suas próprias vacas. Daí, ele mesmo decidiria sobre sua vida, sem precisar trabalhar para os outros.

- Puxa, o que isto tem de mau?

- Tu não entendes mesmo... és muito menino. Vou te contar outra. Conhece o homem que mora na casa com jardim, perto da ordenha?

- Sim, meu pai chama ele de veterinário.

- Pois então... ouvi ele dizer que na capital, não era ninguém; mas aqui no campo, todo muito precisa dele. E mais: à professora da escolinha perto da porteira, ninguém pergunta nada lá na igreja; ao padre, ninguém o cumprimenta lá na cidade.

- Explica-me, por favor!

- Está bem menino. Ouça... a Índia é o reino das vacas. Lá elas são soberanas. Todo mundo quer ser soberano.

- Por que todo mundo quer ser soberano?

- Ora, porque no teu reino os outros te admiram.

- Admiram?

- Sim, eles admiram... Ocorre quando as pessoas olham para ti, e te veem com pelo menos o dobro do tamanho que tu tens, e todos querem ser grandes. Tu não queres ser grande?

- Quero sim! Meu pai sempre me diz que um dia eu vou ficar grande e poderei fazer coisas que eu quero, mas ainda não me deixam porque sou pequeno.

- Entendo, todos os homens são iguais...

- Então, se me admiram, deixarão que eu faça o que eu quiser?

- Sim, sim. Mas para isto, tu precisas do teu reino. Só dentro do teu reino tu aumentas teu tamanho.

- Eu acho que entendi. Eu queria ter nascido uma criança indiana.

- Céus! Ser vaca destas bandas não é fácil mesmo...

Escrito em 25/08/2010.

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Uma conquista de criança

Eu gosto muito da foto aqui ao lado. Toda vez que a contemplo, vejo ternura e alegria. Na verdade, eu tenho até um pouco de vontade de chorar.

Quando uma criança descobre o mundo, tudo lhe parece curioso. Quando uma criança descobre o mundo, aquilo que lhe é desconhecido lhe provoca receio. Uma conquista de criança é uma coisa bem bonita. Ainda me lembro da primeira vez que ousei afastar-me da minha casa. Eu tinha uma bicicletinha usada, que meu pai me dera e, decidi que pedalaria até o final da rua. Isto significava uma quadra.

Enquanto eu pedalava, enchia-me de emoção. O final da rua no horizonte, o tempo passando, o coração batendo... Como poderia sair tão longe de casa? Voltei rapidamente, pois me parecia algo de que os adultos não poderiam saber. Aquela foi uma grande e feliz conquista. Descobri a sensação de percorrer sozinho 50 metros além da minha casa. Se eu soubesse que um dia sentiria saudades disto, teria aproveitado um pouco mais.

Lembro-me desta como uma das primeiras grandes emoções e contentamento de minha vida. Um prazer indescritível.
Escrito em 18/08/2010.

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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Falando um pouco de amor

Tu já leste o capítulo 13, da primeira carta de Paulo aos coríntios? Ainda que, ainda que, ainda que... Esta é a advertência. Não importa em qual extremo cheguemos, se não houver o amor, será como nada.

Vejo o escritor a meditar em sua própria obra e nas praticadas por outros. Vejo-o à procura de gestos extremos da nobreza, da pureza, da humildade, para depois, desqualificá-los completamente.

Bem, confesso que não consegui expressar nas linhas anteriores o que vejo quanto a isto. Parece-me muito abstrato, como se o texto não possuísse um ponto firme. É como se dele pouco pudesse reter.

Um dia, um dos meus amigos com quem eu dividia o apartamento foi hospitalizado, pois passava mal. Resultado do exame: anemia. Macarrão era sua principal refeição. Aparentemente, saciava seu corpo e não sentia fome. Mas, o macarrão, não possui em sua composição todos os invisíveis nutrientes de que um corpo precisa para ser saudável.

Muitos olham as obras da benignidade e se admiram com sua aparência, contudo, seu verdadeiro valor, está em quanto do amor elas possuem.

Uma das grandes lições que aprendo com esta advertência, é de que, tudo quanto fizer, deve incluir o amor. E aprendo mais: sem amor, não há diferença entre realizar ou cruzar os braços. Quem sabe, cruzar os braços em amor seja melhor... Se é que quem verdadeiramente ama conseguiria.

A juventude é a época em que mais se fala do amor. Entre os jovens, muito se ouve acerca de como escolher um companheiro. Inúmeras formas e dicas se discutem. Uma das que ouço atualmente é a respeito do propósito. Como propósito, entenda-se a obra que Deus deseja que façamos na terra. E para esta obra, Deus nos fez como fez, com nossa personalidade, temperamento, talentos e habilidades. E os jovens são incentivados a escolherem seus namorados e namoradas, noivos e noivas, baseados neste valor.

"Queres ser um missionário? Escolha uma missionária", "És uma pessoa assim? Não escolha um assado". É correto escolher alguém pelas similaridades, embora não se ame? Quão cruel é não poder olhar nos olhos, afirmar eu te amo, porque não se ama!

“Mas o amor é uma decisão!”, defende-se. Sim, o amor é uma decisão, que envolve sentimentos. Se não fosse assim, uma separação não seria tão dolorosa, alías, bastaria que se decidisse por ela. O dia seguinte? Bem, como nada houvesse acontecido...

Cristo entregou-se porque amou. Se fosse para cumprir, o que dele se diz nas Escrituras, não pediria: “Se possível, afasta de mim este cálice”. E muitos, querem enfrentar o cálice sem amar.

Por mais nobre que seja o propósito, não é ele o sofredor e benigno. Não é o propósito que não é invejoso, que não trata com leviandade ou que não se ensoberbece. Não é o propósito que não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita e não suspeita mal. Não é o propósito que não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Não é o propósito que tudo sofre, tudo crê, tudo supera, tudo suporta. Não é o propósito que nunca falha.

Só há um valor pelo qual duas pessoas devam se unir, e este valor, chama-se amor. Sem ele, não importa o sacrifício, não importa quão nobre pareça. Com amor se vence todo desafio. O amor é inconfundível, e sabemos, quando verdadeiramente amamos ou quando forçamos o amor. Nossos propósitos, um dia, desaparecerão; o amor, permanecerá.

Deus conhece o tempo e o modo, quando e como, revelará e cumprirá seus propósitos.

Moisés já estava na casa de seus 80 anos quando Deus lhe revelou o que faria. Antes, passou 40 anos no deserto, pastoreando algumas ovelhas e levando sua vida pacata. Mais tarde, o Senhor o transformaria no maior legislador que já existiu no planeta.

O critério para se construir um relacionamento entre um homem e uma mulher é o amor. O propósito não é suficientemente seguro como critério de escolha. Não se deve fixar os olhos exclusivamente nele, mas crer que, independentemente de qual seja, Deus é suficientemente grande para fazer milagres.

Deus faria de Abraão pai de nações, no entanto, foi uma mulher estéril que tomou como companheira. Do ponto de vista do propósito, pareceria incoerente e inviável. Do ponto de vista do amor, Sara acompanharia seu marido fielmente para todo e qualquer lugar, e, sofreria tudo o que ele sofresse.

Quando nos esquecemos do amor e, promovemos o propósito de Deus através de nossas próprias escolhas, expomo-nos a riscos. Abraão tentou em seu próprio entendimento promovê-lo e frustrou-se. Sem amar, tomou para si uma escrava.

Antes que eu seja mal interpretrado, gostaria de esclarecer algo. Não defendo que nos envolvamos com pessoas simplesmente pelo sentimento, sem que avaliemos outras características. O caráter é essencial, a aparência e o charme são filtros naturais da atratividade. Os sonhos pessoais falam muito acerca de como uma pessoa é.

Ouvi dizer que, para que um relacionamento dê certo, é necessário que um casal tenha sonhos em comum. Será? Bem, acho essencial que haja concordância num relacionamento, no entanto, isto será sempre assim? Claro que não. Quando conhecemos alguém, conhecemos apenas a ponta do iceberg. No decorrer da vida, milhares de outras decisões e situações novas e inimagináveis surgirão. E, não temos como saber o que alguém pensa acerca de problemas que ainda não existem.

Não podemos simplesmente escolher alguém pelo que ela pensa agora, pelos sonhos que ela possui no presente. Os valores e a importância das coisas na vida das pessoas mudam.

Uma união é como fecho éclair. Escolher pelos sonhos e pensamentos, é como engatar os primeiros ganchos, tendo os demais durante a vida como uma constante incógnita. Escolher pelo amor, é coincidir desde o início todos os ganchos, mesmo que ainda não tenhamos chegados a cada um deles.

Agora, se me envolvo com alguém que considero às avessas: "Seus sonhos são diferentes, mas eu a(o) amo..." Até aqui tudo certo. Contudo, a pergunta que faço é: "Esqueceria seus próprios sonhos para viver os dela(e)?" Se tu não fores capaz, então não amas de verdade. Um amor verdadeiro farias com que tivesses a compaixão e o bom caráter de não te envolveres com alguém que farias sofrer com esta antecipada decisão de não abrir mão de ti mesmo em prol do outro.

Não se ama também quando desejamos mudar alguém. Não podemos esperar que alguém mude? Podemos, mas não contemos com isto. Quando cobramos uma mudança, é porque nos apaixonamos por alguém que não é a pessoa que vemos, mas sim, alguém que ainda não existe, mas somente em nosso mundo de desejos e imaginação. Se não nos dispostos a aceitá-la como é, não amamos de verdade, aquela, ali, de carne e osso, com seus defeitos e fraquezas. Assim, muitos relacionamentos fracassam.

Abraão sonhava com um filho, mas abriu mão dele porque amou. Abriu mão quando amou Sara, suportando-a, uma estéril, sem procurar por outra mulher. Esqueceu-se de si por amá-la. Quanto a escrava, foi sua própria mulher quem a entregou. E Sara, entregou-a porque queria vê-lo feliz com seu sonho cumprido. Esqueceu-se de que era sua verdadeira mulher. Não lhe importava que o filho fosse de outra. Mais tarde, Abraão quase imolou a Isaque por amor ao seu SENHOR.

Então, vemos que apesar das dificuldades do dia-a-dia, dos sonhos pessoais, todos abriram mão de si pelo outro, por causa do amor. É como uma conversa de adolescentes ao telefone: "vai desliga... Ah não, desliga primeiro..." É assim que o amor é. Todos abrem mão de si, dando a vez ao outro.

O que Deus prometeu cumprirá. Não são as similaridades, ou sonhos em comum que manterão um casal unidos. Somente o amor é capaz de suportar as dificuldades que ambos enfrentarão durante suas vidas.

Creio que dá para escrever mais. Quando vier a inspiração, deixarei impressa aqui. Escrito em 12/08/2010.

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terça-feira, 10 de agosto de 2010

Deus é fiel? Haha!

"Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si..." Isaías 53:4

[...] Milhares de pontos de luz surgiam no chão e formavam anéis luminosos. À medida que suas luzes se intensificavam, os anéis levitavam. Da poeira que agitavam, gradativamente subiam, e os corpos dos mortos eram recompostos dos pés à cabeça, transformando-se o pó em carne. Eram milhares deles, e, um violento vento soprou devolvendo-lhes a vida.

Havia dos que morreram vítimas das doenças e pragas da terra. Seus corpos, agora, encontravam-se íntegros e saudáveis, mesmo, aqueles que sofreram mutilações nas guerras, dilacerados pelas feras ou esmagados em catástrofes.

As águas também se agitavam. A espuma das ondas levavam à praia a lama dos oceanos, onde, esculpiam-se os corpos dos que um dia foram tragados pelo mar. Os anéis luminosos subiam aos céus, após completada a obra, bem como todos os ressurretos. No meio da multidão, uma voz se ouviu:

"Verdadeiramente, esta Palavra é fiel!", bradou. A promessa se concretizava. Tudo ocorreu como num abrir e piscar de olhos. O Espírito disse: "Estes são aqueles que venceram. De suas feridas foram sarados; de suas tristezas foram consolados..."

Enquanto isto, sobre a Terra, homens murmuravam, pois, parecia-lhes absurda a tal fidelidade de Deus. Outros, entendiam que, a quantidade do bem ou mal que se sofria sobre a terra não era medida de quão fiel Ele é, contudo, sim, o cumprimento de seu propósito.

Estes foram aqueles cujas perdas e derrotas lhes levaram a negarem a fé. Perceberam, tivessem olhado para Cristo, compreenderiam que a fidelidade de Deus nunca é sepultada com a carne... Escrito em 09/08/2010, inspirado numa antiga visão do arrebatamento.

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

A melhor explicação

As crianças da classe de 8 e 9 anos participavam de mais uma aula. Num determinado momento, trazia à memória delas o significado da palavra Páscoa: “Então crianças, aqueles cujas casas estavam as marcas do sangue do cordeiro, a morte passava por...”. E elas, como eu esperava, responderam: “Cima!”.

Um dos meninos, em sua graça peculiar, perguntou: “Por que não passava por baixo?” Ao que outro, imediatamente, como quem explicava o que lhe parecia óbvio, respondeu:

“Ora, porque quem passa por baixo é o diabo!”. Aulinha da EBI, em 01/08/2010.

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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Por favor, cosquilha-me!

Certa ocasião, aprendi algo que mudou completamente a maneira como vejo as pessoas. Foi como se, de repente, tudo fizesse sentido, como se descobrisse um grande tesouro e compreendesse um grande mistério.

Preciso pintar um quadro com as palavras. Não me parece tão trivial. Ele está lá dentro de mim, mas é difícil expô-lo. E a imagem que pretendo pintar é a de uma frustrada multidão.

Qual é a ideia que tenho da felicidade? Felicidade para mim se parece muito com uma vida tranquila. Como gozá-la? Como obtê-la? Como vivê-la?

Sai procurando a felicidade. Não sei exatamente como, mas, eu já sabia de que dela não se encontra jazidas por ai. Como encontrá-la é uma ótima questão. Assim, valendo-me da razão, pensei que a melhor forma de encontrá-la seria observar ou pedir ajuda a quem já a houvesse encontrado. Certamente, pouparia-me muito tempo e trabalho.

Olhei ao meu redor e vi a felicidade impregnada naqueles que a encontraram. Como eu suspeitava, tratava-se de uma manifestação. Ela se manifestava em uma boa casa. Manifestava-se em uma boa poupança. Manifestava-se em um bom emprego. Manifestava-se em boa saúde. Manifestava-se em reconhecimento. Descobri onde encontrá-la, finalmente. Agora, precisava possuí-la.

Novamente, pela razão, possuir a felicidade era-me sinônimo de adquirir os corpos nas quais seu espírito incorpora. Se a felicidade se manifesta em uma boa casa, é deste corpo que eu preciso. Se ela se manifesta em reconhecimento, é dele que necessito. Se em uma boa poupança, é dinheiro que preciso ganhar. E assim, explica-se o motivo pela qual fazemos o que fazemos na vida.

Nesta caminhada, em busca da felicidade, inevitavelmente, deparei-me com muitas dificuldades, ou melhor, com muitas infelicidades. Também me deparei com muitos infelizes, mesmo que me não transparecessem. O julgamento era meu.

Infelizes são todos aqueles que não apenas não encontraram a felicidade, mas também aqueles que não a procuram. Infelizes são aqueles que não desejam a casa que eu quero ou o reconhecimento que eu busco. Infelizes são aqueles que, pelas circunstâncias, provavelmente nunca alcançarão aquilo que eu desejo. Quando penso nos miseráveis, penso nos infelizes.

Trata-se de uma frustrada multidão. Eis a pintura. No entanto, mas que parecer frustrada, é uma multidão que julgo frustrada. E há daqueles que deveras o são. Bem, neste momento da caminhada, já compreendo que a felicidade tem tantos significados quanto pessoas no mundo.

Quando olho para este quadro vejo rostos tristes e infelizes. São milhares de milhões. Nunca alcançarão sua felicidade. São pessoas a quem não se dá valor algum. Pessoas das quais nunca mais se falarão após a sua morte. Pessoas que nunca deixarão nenhum bem material para seus filhos. Pessoas cujas contribuições para o mundo são absolutamente inexpressivas. Parece não terem nenhuma importância, sendo sem valor sua existência. Por que nasceram?

Um dia, eu saia do meu trabalho. Algumas pessoas cruzavam. Uma delas chamou-me atenção. Esbravecia muito, sua face era dura.

Naquele instante, uma voz suave ditou ao meu coração: Ela nasceu para ser amada.

Por que nascemos, por que vivemos? Não me resta dúvida alguma. Toda vez que olho alguém, seja quem for, seja boa, seja má, eu vejo um profundo e grandioso amor dedicado a ela. Isto faz meu coração enternecer. Cessam-se todos os meus julgamentos.

Não sei exatamente o porquê de acontecer comigo. Meus olhos não são mais os mesmos. Todas as pessoas tornaram-se especiais e importantes. Não importa quem, não importa onde. Não importa seu nascimento, ou onde foram criadas. Não importa se têm dinheiro ou não. Não importa se são educadas ou ignorantes, se brancas ou negras. Adultos ou crianças. Não importa nada. A vida só faz sentido se nasceram para serem amadas.

Eu me perguntava: De toda esta multidão, por que tantas passam por aqui, desapercebidamente? Milhares nascem e sofrem. Milhares nascem e morrem. Deus escolheu tê-los. Qual o sentido do nascer? Não seria melhor que Deus tivesse misericórdia das pessoas para que elas não precisassem nascer mais? Afinal, aflições e frustrações são o que a todos aguarda.

Mas, se nascemos, e Deus assim permite, certamente há um motivo muito forte, que faz toda diferença. Dentre todos os piores motivos que possam existir para que Deus exercesse misericórdia impedindo um nascimento, existe um bom motivo capaz de sobrepujá-los a todos. E por causa deste motivo, Deus é capaz de permitir que um bebê venha à vida.

Se eu fosse Deus bem que seria capaz de impedir novos nascimentos. Contudo, no dia em que eu conhecesse o propósito da vida, não haveria coisa ruim que me impedisse de permitir tantos nascimentos quanto fossem necessários.

Só existe um motivo pelo qual Deus permite que um novo bebê venha à vida. E este motivo é: Ele merece ser amado. Seria cruel poupá-lo deste amor, mesmo que fosse por um único segundo.

E quando Deus olha e vê o tamanho e o valor do amor que espera por cada novo ser, Ele não se contém. É melhor que nasçam tantos quantos seja possível. É o desejo de Deus amá-los. É o desejo de Deus que ele ame e seja amado.

Alguém já te fez cócegas? Daquelas ininterruptas e das quais não se consegue correr? De repente, cais no chão sem aguentar nem mais um toque. Continuas rindo até que não tenhas mais força alguma para lutar contra seu cosquilhador. Entrega-te. E o cosquilhador continua, mas tu não lutas mais. Estás farto e cansado, transbordas de riso...

Cada pessoa nasceu para que seja amada desta forma. O amor tão grande, tão intenso, que se torne um prazer insuportável. No seu último dia de vida, caias sobre a terra com tanta alegria, farto de tanto amar e ser amado, que não encontres que algo te falta. Estarás saciado, foi bom passar por aqui... E isto te alegrará.

Nossa missão, nosso propósito é este. No final, nenhum outro faz sentido. Se nascemos para acumular bens, viajarmos o mundo, alcançarmos a fama, seja lá o que for, lamento. Nunca encontraremos a felicidade, pois, só pode habitar dentro de nós... e em mais nada.

Agora, se amamos e somos amados, não importa idade, não importa onde estamos ou onde estaremos, não importa o que temos ou não temos. Nada importa. Não importa se moramos em desertos, montes, ilhas ou vales. Não é isto que define a importância de um nascimento. A importância de um nascimento é: Nasceu para fartar e ser farto das cócegas do amor. Oh, por favor, cosquilha-me! Trecho do meu livro.

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sábado, 1 de maio de 2010

"Une baguette s'il vous plaît!"

Amados, a Palavra de Deus nos instrui de que as crianças devem ser ensinadas no caminho em que elas devem caminhar. Esta é uma atribuição nossa.

No final da semana passada, eu estava no retiro de adolescentes. Em nosso momento de lazer, uma criança, de apenas cinco anos, ao passar por ela, chamou-me a atenção dizendo: “Eu conheço você... você é aquele que contou a história do diabo e do pão”. Bem, numa certa ocasião, perguntei a elas: Com que compararei a Palavra de Deus? E mostrei: Com um pão baguete! A Palavra de Deus é alimento, mas também é uma espada contra nosso inimigo, comprida como baguete. E aquela criança nunca mais esqueceu disto...

Tenho aprendido que crianças, mas que uma tentativa de ensiná-las, devemos encantá-las. Encantá-las com o caminho em que devem andar, para que nunca dele se desviem e sejam livres. Ministração sobre crianças, 18/04/2010.

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terça-feira, 30 de março de 2010

Testosterona, sabedoria e os 4 elementos

Há três coisas que me maravilham, e a quarta não a conheço: o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar e o caminho do homem com uma virgem” Pv. 30:19.

Salomão dedicou parte de sua vida ao estudo, ao conhecimento e prática da sabedoria. Observava atentamente o mundo e tentava explicar a ação do homem. Numa de suas observações, demonstrou-se maravilhado com três coisas: o caminho da águia no céu, o caminho da cobra na penha e o caminho do navio no meio do mar. Para completar, revela: uma quarta ,ainda não conheço - o caminho do homem com uma virgem.

Em certa ocasião, ouvi quem citasse este texto, abordando o valor que para o sábio representava a pureza de uma mulher. No entanto, creio que não foi sobre isto que Salomão chamava atenção.

Coloquemo-nos na posição de Salomão, ao observar uma águia. Há alguns anos atrás, assisti um vídeo sobre a vida e os hábitos do condor dos Andes. O animal e seu voo são realmente impressionantes. Não fora à toa que Salomão maravilhara-se estupefato.

Uma das prontas perguntas que fazemos ao nos depararmos com tal espetáculo é: “Como ela pode?”, ou seja, que maravilhoso seria alçar voo como a águia... Creio que o que mais impressionou Salomão foi o domínio e o controle que aquele animal tão naturalmente e graciosamente exercia sobre a gravidade.

Paralelamente, Salomão cita o caminho da cobra na penha. Quem não se impressionaria ao ver uma cobra escalando uma montanha? E a pergunta que me faço: “Como pode?”, como ela consegue subir e não despencar? E o que falar do caminho do navio no mar? Que maravilhoso olhar um transatlântico no meio do oceano... Até mesmo o tolo se impressionaria com um gigante de aço que não afunda.

Estas observações inspiraram Salomão. Entendo que se há algo em comum entre estas três, trata-se de domínio, controle e governo exercido. Por último, o sábio afirma: “a quarta não conheço... o caminho do homem com uma virgem”.

Salomão declara que, de tudo do que se podia maravilhar, nunca havia visto o caminho de um homem com uma virgem. Se a águia domina os céus, a cobra domina a terra, o navio domina as águas, nunca se viu um homem que dominasse o fogo.

A mulher, a virgem, é como um fogo. Que homem conseguiria resisti-la, acompanhando-a no caminho e ainda manter o domínio e o controle? Certamente, não existe sabedoria que resista a altas doses de testosterona na corrente sanguínea.

Finalizando, reflitamos o pensamento do sábio rei:

“Tomará alguém fogo no seio, sem que as suas vestes se queimem? Ou andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus pés?” Pv. 6:27-28. Escrito por Cléber em 30/03/2010.

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Uma raposinha solitária

Antoine de Saint-Exupéry, em seu livro mais famoso, O Pequeno Príncipe, escreveu acerca dos laços de carinho formados entre as pessoas.
Na história, o menininho de cabelos de ouro, trava um diálogo com uma raposinha, que lhe ensina o valor da amizade. Eis abaixo alguns trechos selecionados.

Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

Nesta semana, aconteceu-me algo que abalou-me profundamente. Um buraco, um vazio na alma é como descrevo. O vazio de uma perda, como a perda da morte.

Na verdade, sinto que conhecê-la, foi-me mais gratificante que para ela conhecer-me. No entanto, sei que amou-me com toda força que podia. Ela tornou-se importante para mim. Eu depositei nela a confiança que poucas vezes na vida depositei em alguém. Então, quando ela se foi, doeu muito, pois fora como se um pedaço de mim fosse arrancado...

Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.

Com ela, abri muitas vezes meu coração. Contei daquilo que me afligia, daquilo que eu sonhava, daquilo que me alegrava, daquilo que me entristecia. E eu também a vi chorar... Ela conheceu meu verdadeiro caráter. Na presença dela, muitas das minhas máscaras eu não utilizei... Ela conheceu como realmente sou.

O teu (passo) me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...

Antes de deixar-me, eu já sentia saudades dela. Aliás, eu sentia saudades todas as tardes que me despedia dela. Tudo bem, tudo bem... eu já sentia saudades algumas horas antes da hora de me despedir. E é esta amizade que torna um local de trabalho tão agradável.

Às vezes, deixava-me um pouco confuso, pois, parecia-me um pouco arisca e misteriosa, enquanto outras vezes, extremamente dócil e transparente. Eu aprendi a amá-la da maneira como ela é, e isto enriquece profundamente meu coração.

A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!

Amigos são tesouros preciosos, raros, que não se encontram facilmente por ai. Com um pouco de tristeza eu confesso: creio que não alcancei esta marca em seu coração, e talvez, seja minha maior decepção. Não sei ser tão bom amigo, como ela soube ser.

É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

Quando eu soube que trabalharia com ela, imaginei tudo diferente. Imaginei que brigaríamos, imaginei que não a amaria. Mas todos os dias, quando ela chegava, eu a observava do lado onde estava. Aprendi dela pouco a pouco, até que, um dia, ousei aproximar-me e surpreendi-me quando a vi permanecer em seu lugar.

Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...

Lembro-me que sentava-me próximo a ela, perguntava como ela estava. Dividíamos muitas coisas. Ela me fazia feliz. Eu amava muitíssimo sua companhia, aguardando com expectativa, uma pessoa leal.

Bem, no final, o principezinho cativou a raposinha e correu ver as rosas que não a sua.

Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela á agora única no mundo.

É como sinto. A única no mundo. Por isso, o sentimento de perda é ainda maior...

Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.

Mariana foi minha irmã e companheira. A ela eu digo: Obrigado por tornar nosso trabalho tão leve e agradável. Tu serás inesquecível para mim. Tu enriqueceste minha vida com sua amizade. Tu és única em todo o mundo. Espero que tu não te esqueças de mim, pois “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Deixaste-me órfão, mas alegro-me, porque agora, estás livre para voar. Escrito por Cléber em 05/03/2010.

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