quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Carta a uma feminista

Carta à sra. Doris Margareth de Jesus, representante da UBM (União Brasileira de Mulheres) no Paraná. Esta carta foi baseada em debate com sua participação, pró-aborto, veiculado pelo programa Plano Geral da TV SINAL.



Boa tarde sra. Doris Margareth,

Primeiramente, gostaria de parabenizá-la por ser avessa à pratica do aborto. Por que penso assim?

Bem, logo no início de sua fala, no programa Plano Geral, da TV SINAL, veiculado em 18/10/10, a sra. incluiu-se a si mesma, àquelas cuja bandeira é a "liberdade" de escolha sobre seu corpo e sexualidade. Contudo, tratou imediatamente de deixar claro ao público que, apesar da auto-inclusão, nunca antes cometera um aborto.

Penso que, se considerasse esta uma bandeira tão nobre, seu esclarecimento (que expressou tamanho pudor), seria desnecessário. Lembre-se: o corpo fala. Mas vejo que tentou se desligar de uma prática que em seu interior julga reprovável.

Não desejo apontar o dedo e criminalizar ninguém, mas, reafirmar nossa liberdade com o maior exemplo dela já demonstrado, reafirmando: "Eu também não te condeno. Vá e não peques (erres) mais".

O meu apelo é para que, deixe este sofisma de "liberdade" sobre o próprio corpo, liberdade de "direitos". Não cabe a outro decidir se um ser humano deve morrer. Sabe o porquê? Porque ninguém é dono de uma vida que não a sua, e, até mesmo esta, em parte. Portanto, não se deve manipulá-la como se proprietário dela fosse.

O discurso pró-aborto é uma bandeira falida, porque é baseado no egoísmo, no amor próprio e na irresponsabilidade. É baseado na falta de caráter em assumir, na maioria dos casos, um compromisso pela consequência de sua própria escolha.

Acerca da tal sexualidade reprimida da mulher comentada, faz-me sentir como se procurasse um meio de se parecer com um homem. Na verdade, homem da pior espécie. Sra. Doris, homens são homens, mulheres são mulheres. E um homem de verdade não é somente um homem porque possui um falo. Aqui, refiro-me a caráter.

Seus argumentos levam as mulheres a se nivelarem por baixo, o pior padrão. Mulheres não merecem isto. Como sustenta a ideia de que o homem tem mais privilégio quando sai para uma "balada", onde é capaz de tantas transas que quiser, e a mulher, leva desvantagem nisto pelo risco de gravidez? Por que não se prega mais respeito e dignidade na prática de sua sexualidade? As mulheres e os homens são igualmente especiais, e cada um tem papéis que cabem somente a um ou a outro. Nisto, a própria natureza conspira contra seus argumentos feministas, e pouco femininos.

Também falou acerca do grau de desespero em que uma mulher encontra-se, a ponto de cometer um aborto. E eu concordo com isto, pois, quem em sã consciência desejaria tal catástrofe para si e para outro? Perceba que confessa que o aborto é fruto de uma mente perturbada, um coração destruído e desesperado. Não há raciocínio, não há controle, não há sensatez. Oxalá estivesse alguém que desse amor, ao lado de cada uma destas mulheres, nesta hora de tamanho desespero.

Encontro algo estranho em tudo isto. Por que não se investe em evitar que uma mulher chegue neste ponto triste e crucial? Por que esperar pela descriminalização para que venha acompanhada de campanhas de conscientização? Por que não se faz tais campanhas independentemente desta descriminalização?

Eu sinto que existem forças que, conscientemente, levam a sociedade para a beira do abismo no que diz respeito a este tema. Lá, será mais fácil fazer-nos crer na falsa ideia de solução pela descriminalização. É o pau de arara. Diz-se, nele, entrega-se até a mãe. Não, nós não precisamos chegar à beira do abismo, se é que já não chegamos.

Guardadas as devidas proporções, permita-me uma comparação: Se numa sociedade as pessoas estão extraindo mais dentes estragados, creio que a solução não é investir em mais consultórios odontológicos e formação de mais profissionais dentistas. Se numa sociedade, o número de cirurgias bariátricas cresce assustadoramente, creio que a solução não passa em preparar o SUS para que se atendam tantos casos quanto necessário. Não podemos pensar em tais problemas como simplesmente um problema de saúde pública.

Mobilização e ação inteligente deveria, primeiramente, levar-nos a indagações: por que tanta extração? Por que tanta cirurgia? Quem sabe, assim, descubramos que a causa de tais problemas sejam os maus hábitos de alimentação, o consumo exagerado do açúcar, a ingestão exagerada de carboidratos e gorduras. Uma vez conhecido a causa, promovem-se políticas públicas de educação. E é claro que isto é mais inteligente do que no futuro se distribuir insulina.

A prevenção é melhor caminho que a intervenção, pois, a ignorância é insaciável. Precisaríamos de menos dentistas se nosso povo fosse mais educado. Estimular a extração de um dente estragado resolveria um problema estético, a dor física, mas o vão e a dor estarão naquele corpo pelo resto da vida de uma mulher, não importa quantos pinos ou quanto amálgama se coloque lá para escondê-lo. Refiro-me a um vão interior.

É mentira que o governo se importa com morte de mulheres negras e pobres que cometem aborto. Se fosse verdade, o governo teria atendido estas mulheres, dado atenção, desejado saber o porquê de terem cometido um ato extremo de implicações inimagináveis contra si mesmas e um filho. Teria procurado ajudá-las para que não acontecesse mais. O governo não se importa.

Se o governo sabe com tanta precisão quem sãos as frágeis vítimas, as mulheres negras e pobres, já teríamos políticas públicas de prevenção e agentes comunitários em ação em todo lugar neste país onde existem mulheres negras e pobres. Isto eu ainda não vejo acontecer. Só ouço o grito das crianças assassinadas, a bandeira falida das feministas e a miopia governamental do problema de saúde pública. Onde estão as feministas? Por que não se mobilizam para ajudar estas mulheres? Vamos! Percorram os guetos onde estão as mulheres negras e pobres! Quanta dor poderíamos evitar. No entanto, mulheres que defendem o aborto creem que menor será sua culpa, quanto mais politicamente correto a questão se transformar. Aqui há engano. Anestesia são para os corpos, não para consciências.

Existe uma lei interna e universal a favor da vida em todo ser humano. Alguns chamam isto de consciência. Não existem mulheres cujas leis internas lhes sejam favoráveis, que as façam se sentir melhor ou menos culpáveis após um aborto. Não importa o que digam as leis civis ou criminais de um país. Estas leis são independentes, e muitas delas, hoje escritas, estão baseadas na lei que por gerações, estão contidas no inconsciente senso de justiça e bem que a humanidade possui dentro de si.

Não importa o motivo que leve uma mulher a cometer um aborto. No final, sua consciência lhe dirá que não valeu a pena. Será como resolver um "problema" substituindo por outro. Troca-se um vazio físico no útero por um vazio emocional. Um ser humano, nunca será abortado de verdade, pois, ele continuará lá, preso para sempre no coração e na alma da mulher.

Ainda, sobre seu questionamento sobre se esta lei interna, já não seria suficiente, eu concordo contigo. Seria suficiente sim. Seria suficiente se as pessoas fossem capazes de respeitar esta lei natural. Mas não são. O ser humano prostitui sua consciência, tem seu preço, vende-se por egoísmo, prazer e até medo. Medo de morrer.

Agora, como sabemos, existem daqueles que infrigem a lei interna. Por isso, é preciso assegurar, proteger por meios legais o direito à vida de quem não pode se defender. A lei não pode garantir vida, isto foge ao total e completo controle humano, mas pode garantir seu direito.

Ora, se assassinato é crime, como creem ser válido a descriminalização do aborto? Como podemos dizer que não é crime um crime? Um óvulo fecundado não é simplesmente uma "expectativa de vida" como disseste sra. Doris. E ele pode viver sim fora do corpo da mãe, feito num tudo de ensaio, ou congelado em nitrogênio líquido por décadas. Ele só precisa de um lugar para crescer.

Este é, sem sombra de dúvidas, um ser vivo. Conseguiria porventura criar por conta própria nem que fosse uma única célula? Existe dúvidas de que ela é viva? Então, que significa destruí-la? Por menor que seja um ser humano ele precisa ser respeitado. No entanto, a exploração desta dúvida sempre haverá. Então, eu escolho a vida, pois, enquanto houver dela, haverá esperança.

Assim, é preciso protegê-la do egoísmo, da falácia e do sofisma da proteção da vida pela morte, eufemismo barato, disfarce da busca irresponsável do prazer pelo prazer sem compromisso no discurso da sexualidade.

Sra. Doris, ainda há tempo de se arrepender. Entenda que eu também não te condeno. Vá e não peques mais.

Respeitosamente,

Cléber C. FERNANDES

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