quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma aula de saltos e voos

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Romanos 12:1-2, Almeida RA.

O Apóstolo Paulo, em sua epístola dedicada aos Romanos, faz um apelo aos cristãos: “Irmãos, pelo amor de Deus...!”, paráfrase minha. Após 11 capítulos, o apóstolo abre parênteses, e apela aos destinatários de sua carta.

O apóstolo sabia que, sua recomendação, uma vez atendida, levaria seus irmãos a alcançar novo patamar em sua vida cristã e, a colherem um dom. Rogando, pelas misericórdias de Deus, pede:

“...apresenteis o vosso corpo por sacrifício...”

Neste trecho, a palavra “apresenteis”, no original grego, é a palavra parastêsai. Esta era a palavra que, definia, o ato de exibir, prover, pelo sacerdote, diante do altar, o animal para um sacrifício. Percebe-se, pois, que, o apóstolo, no momento em que escrevia este trecho da carta, tinha em mente uma cerimônia nos moldes dos sacrifícios oferecidos no Antigo Testamento.

O apóstolo rogava que deveríamos nos “parastêsar” diante do altar de Deus. Este ato, segundo ele, santo e agradável ao Senhor, constituía-se no que designou de “culto racional”.

A palavra “racional”, no texto, é a tradução da palavra grega logikên, da qual deriva ainda a palavra lógica. É como se o apóstolo diferenciasse aquilo que se definiria como um “culto espiritual”, de um culto racional.

Como culto espiritual, talvez se entenda a ministração onde fluem os dons espirituais, a profecia, os dons de línguas, as interpretações, os cânticos, as manifestações de poder, etc. E sobre os dons e a maneira como deveriam se manifestar na igreja o apóstolo também escreveu em outras ocasiões.

O culto racional, como culto, ou seja, ministração ou serviço a Deus, também era entendido pelo apóstolo como uma manifestação de caráter lógico. Entendo que, o desejo de Paulo, era que os cristãos entendessem, tomassem uma decisão lógica de apresentar-se, dispor-se fisicamente ao serviço de Deus. E isto não necessariamente consistia em algo espiritualizado, já que um anjo do céu, por exemplo, não era necessário aparecer para que compreendessem que agora, era importante arregaçar as mangas e caminhar.

Talvez Paulo tivesse motivos para crer que, alguns cristãos, não estavam se movendo, ou temesse que isto ocorresse: ou por preguiça, ou comodismo, por ignorância, ou seja lá o que fosse. Na visão de Paulo, a inércia, deveria ser vencida, mediante o “parastêsar”, pois, como poderiam os cristãos alcançar as coisas espirituais, caso não se submetessem a ministração da Igreja? É por isto que Paulo apelou. Em sua visão, todo ato em direção a Deus, também é uma espécie de culto.

Uma vez o corpo à disposição, agora, restava ainda o tratamento da mente. Na sequência, o apóstolo mais uma vez recomenda:

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos...”

A palavra “conformeis” é a palavra grega suschêmatizesthai. Ela dá a conotação de “a forma semelhante” ou, “de acordo com um padrão”. Parafraseando, eu diria que o apóstolo exortava-os a não seguir a moda do mundo.

O caminho alternativo sugerido pelo apostolo foi “transformai-vos”. Aqui, uma observação é importante: a transformação é intima. Em nenhum momento, o apóstolo disse que os cristãos deveriam mudar os costumes do mundo sobre os quais ele pedia que não se sujeitassem.

A palavra grega original para “transformai-vos” é metamorphousthai. Herdamos muitos dos radicais gregos para o português, logo, a palavra metamorfose (mudança de forma), é derivada deste termo. Tal, emprega-se comumente na biologia, para designar, por exemplo, o processo de transformação física que alguns animais passam entre a fase juvenil e a fase adulta. Talvez o exemplo mais clássico, seja a metamorfose de uma lagarta em borboleta.

Apesar de não estar se referindo a uma transformação física, o apóstolo utiliza o termo, tornando no original, ainda mais claro o processo de mudança que ele pretendia que cada crente vivenciasse.

De maneira brilhante, fez-se neste pequeno trecho, um paralelo entre o que se esperava de seus leitores: conformar, segundo o mundo, seria o mesmo que esculpir num pedaço de madeira uma peça qualquer, dando-lhe forma, no entanto, ela continuaria sendo madeira. Ao contrário, transformar-se, era aos seus olhos, como aquele que contemplando uma borboleta, duvidasse que um dia fora um animal tão estranho. Conformar não passaria de uma maquiagem, enquanto, transformar, implicaria numa cirurgia plástica radical. Este era seu apelo.

E é verdade que, somente as borboletas alçam voos e conhecem mais flores. Somente os sapos dão saltos. Lagartas e girinos passariam toda uma vida de reduzidas possibilidades. Talvez esta seja umas das respostas do porquê, alguns cristãos, parecem-nos alcançar tanto e outros, tão pouco.

Mas, como alcançar isto? O apóstolo ensina o modo: “pela renovação da vossa mente...”

Os cristão deveriam, submeter-se integralmente (corpo, alma e espírito), permitindo que o modo como pensavam fosse radicalmente transformado pela ministração da Palavra de Deus. Note-se que renovação é ação contínua.

Paulo não recomendava coisas a esmo. Tudo isto tinha um objetivo, que o deixava extremamente entusiasmando: “para que experimenteis qual seja a... vontade de Deus”.

Imaginemos então o tom em que o apelo fora feito. Nada mais, nada menos estava em jogo que a experimentação, por parte da Igreja, da própria vontade de Deus. Experimentação esta que dependia da disposição pessoal em se apresentar diante de Deus e permitir que suas mentes fossem transformadas.

O mesmo Paulo não sabia qual era a vontade de Deus, por isto, escreveu: “seja qual for...”. No entanto, ele, de uma forma amorosa dá indícios de como ela é: “...boa, agradável e perfeita...”. Neste processo, entende-se que, a vontade de Deus, antes de ser conhecida, ela é vivida. Ela é experimentada, dia após dia, renovação após renovação, toda vez que, alguma coisa mudada em nossos pensamentos, coloque-nos cada vez mais perto de Deus, e mais longe do pecado. Ministração no culto de Juniores e Adolescentes em 13/11/2010.

1 comentários:

Wagner Fernandes disse...

Muito bom, também vejo neste texto: apresenteis como sacrifício vivo a Deus o seguinte:
Da mesma forma que se ofereciam sacrificios de animais mortos a Deus para cultuá-lo, nós devemos nos apresentar a Deus como sacrifícios vivos, conscientemente morrendo para o mundo e o pecado para agradar a Deus. E isto é um culto que damos a Deus! Benção muito legal!