quarta-feira, 8 de junho de 2011

Chocovaca ou Vacatoni?

Esta aconteceu hoje e, tão logo soube do caso, resolvi colocá-lo no papel...

- Tu não vieste ver-me ontem, disse-lhe a vaca, um tanto consternada.
- Desculpa... é que... eu estava muito ocupado com pensamentos.
- Pensamentos? Posso saber?
- Eu pensava naquilo que provavelmente falta em minha vida.
- Falta em tua vida? Mas... que poderia te faltar?
- Também não sei... Pensei, pensei, pensei... mas, não encontrei.
- Então que te faz pensar que te falta algo?
- É que sinto como se faltasse. Não sei bem como explicar... às vezes, a vida parece tão monótona...
- Eu poderia ajudá-lo a descobrir.
- Tu farias isto por mim? Se tu podes, continues!
- Pois bem, antes de continuarmos, corra até tua casa e traga o livro de receitas de tua mãe.
- Livro de receitas? Como assim?
- Vamos, corra lá e traga o livro. Tu não queres que te ajude?
- Eu não entendo como isto pode me ajudar, mas, se tu insistes...

O menino correu até a casa e voltou cerca de uma hora depois com o livro de receitas de sua mãe. Ficou contente em trazê-lo sem que algum adulto o questionasse do porquê levava-o consigo ao campo.

- Eis o livro de receitas! Poderias me explicar agora do que se trata?
- Tu já fizeste um bolo antes?
- Sozinho ainda não. Eu já ajudei a minha vovó e a mamãe a fazê-los, mas nunca antes fiz um por conta própria.
- Ótimo, creio que isto já basta. Escute-me, procure no livro o bolo que tu mais gostas.
- Bem, deixe-me ver... eu amo aquele com frutas cristalizadas...

O menino procurou pela foto do bolo que mais gostava e mostrou à vaca. Colocou o livro aberto sobre o palanque mais baixo da cerca, enquanto sua amiga observava.

- Ótimo, disse ela.
- Quer me explicar agora?
- Diga-me, como se faz tal bolo?
- Bem, este bolo se faz... E começou a ler a receita, passo a passo.

Enquanto ele lia, a vaca prestava atenção em cada detalhe. Quando terminou, disse ao menino:

- Ótima receita, mas, falta uma coisa.
- Falta? Eu li a receita exatamente como ela está descrita!
- Falta-nos chocolate! Eu amo chocolate!
- Desculpe, mas não posso concordar. Minha mãe não usa chocolate e, apesar de também gostar de chocolate, não creio que mudar a receita desta maneira seria bom. Eu acho que o bolo se transformaria em outro que não aquele que sempre gostei.

- Então, agora acho que tu entendes o que quero dizer.
- Amiga vaca, ainda está confuso!
- Ótimo, eu esclareço...

O menino sentou-se sobre a relva com grande expectativa. Esperava aprender algo precioso.

- O segredo para tua cura é simples: aprenda a fazer a pergunta correta.
- Continue... dizia ele, como quem já sabia ser perda de tempo resistir.
- Ora, se tu fosses aquele bolo de frutas cristalizadas, estaria correto dizer que te falta o chocolate?
- Não.
- Meu amigo, aquilo que te falta, tu só saberás no dia em que tu souberes quem tu és. Só ai, tu saberás a resposta exata daquilo que te falta para viver. Tua insatisfação é legítima, mas, sem saber quem tu és, corres o risco de te acrescentar daquilo que não te convém e, não buscar daquilo que te é essencial.

O menino estremeceu. Enganaria-se quem afirmasse que aquele olhar fixava-se em um ponto qualquer entre os olhos da vaca.

Escrito em 06/05/2011.

0 comentários: