quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quebra-cabeça

Existem assuntos sobre os quais há muito tempo medito. Um deles, a minha vocação.

Um balanço destes anos, envolvido em Sua obra, fazem-me continuamente refletir: por que faço o que faço?

Admiro aqueles que, segundo minha observação, demonstram firme convicção de seus papéis e suas obras. Confesso que até mesmo hoje, sinto como um vazio em meu discurso. É como se eu ainda buscasse crer naquilo que faço, ou acreditar naquilo que devo fazer.

No que se refere a assuntos de salvação, creio compreendê-los. É verdade que senti genuína vontade de compartilhá-la. Diante do sofrimento humano, também senti genuína compaixão e o desejo de preencher as lacunas do que carece o mundo.

Como disse, sempre que me deparo diante de alguém que parece convicto daquilo que anuncia, admiro-o. Compreendo que tal pessoa entendeu algo que eu mesmo ainda não.
Diante desta situação, comecei a clamar por entendimento e, minhas palavras foram: “Faz-me entender aquilo que ainda não entendi”.

Com o passar do tempo, percebia que algo mudava na maneira como enxergava algo. Repentinamente, alguma coisa fazia real sentido para mim. Minha defesa já não era da boca para fora, no entanto, tratava-se daquilo que verdadeiramente cria e ardia em meu coração. A consequência imediata disto foi a necessidade de compartilhar. Daquele momento em diante, todos os meus pensamentos e ações passariam pelo clivo desta nova maneira de pensar.

Na caminhada também compreendi, não preciso buscar o mesmo entendimento que vejo em outrem. Isto porque tenho uma obra e uma função no corpo, diferente das de outros. Os assuntos os quais se me esclarecem ao coração não precisam ser necessariamente idênticos aos do meu irmão, mas, na medida necessária para a obra que compete a mim. Eis porque alguns vão aos judeus, outros, aos gentios.

Um dos exemplos mais marcantes desta mudança foi a compreensão de como realmente faria diferença no mundo. A busca do poder, antes almejado, como instrumento de promoção das transformações que julgava necessárias, pareceu-me na verdade, mais uma intenção velada de um coração corrupto e enganoso que buscava alguma notoriedade. A verdadeira mudança que eu desejava precisava primeiramente acontecer em mim.

Neste processo, entendi o que o apóstolo Paulo ensinou em trechos de suas cartas. Ele falava sobre dons, poderes, negações de si mesmo e coisas extraordinárias. Depois de citá-las, explicá-las e até mesmo, incentivar os cristãos a buscá-las, ele afirma: agora, mostrarei um caminho ainda mais excelente... o caminho do amor.

Depois daquele dia, percebi que nada é superior ao amor. Nada que pudesse fazer ou obter seria superior ao amor que pudesse sentir e demonstrar. Eis aqui um dos entendimentos que mudaram a maneira como passei a exercer meu papel.

Contudo, confesso, ainda não obtive todo entendimento que almejo. Ainda há um vazio que percebo no meu espírito, na consciência, acerca da minha vocação. Nem sempre estou convicto daquilo que gostaria. Muito do que peço não sinto ardendo dentro de mim. Tenho o discurso, mas não tenho o entendimento. É isto que chamo de vazio. Eu preciso preenchê-lo.

Quando aprendi acerca do amor, tornei-me liberto de mim mesmo. Tornei-me liberto de minhas ambições pessoais. Tornei-me liberto quanto ao resultado de meu próprio desempenho. Entendi que nada faria sentido, por mais extraordinário que isto parecesse, se não amasse.

Com isto, não quero dizer que nada mais importa. É claro que importa. Importa impor as mãos, importa ser canal do Seu poder. Contudo, o amor é combustível que mantém a chama acesa e o filtro pelo qual passam todas as minhas intenções e ambições.

Nestes últimos dias, voltei a sentir a necessidade de buscar o sentido da minha vocação. Voltei-me à Palavra. Senti que Ele falou comigo.

Invadiu-me a ânsia de conhecer, de saber o que faço. Atualmente, dedico-me ao pastoreio, e amo fazê-lo, mas, até mesmo ele, vez ou outra, parece-me um pouco vazio. É como se, de vez em quando, não entendesse o que faço. E, se porventura, tento defender sua importância, sinto-me pouco sincero.

Nesta busca, ouvi o que Ele diz através do Seu servo Paulo: que existe daquilo que conhecemos em parte, enquanto a outra parte, cabe-nos profetizar. Foi então que, ouvi do Espírito a direção: profetiza, pois, esta é a parte desconhecida ao homem. E é assim mesmo, pois, se soubesse tudo, não O buscaria.

A angústia que sinto é como daquele que anseia enxergar o objeto, mas somente vê a sua sombra. Ainda está escondido de mim. Contudo, conclui que não devo preocupar-me. A medida que possuo agora, mesmo que deseje mais, é a porção justa. E enquanto isto, seguir ouvindo e caminhando. Ouvir e caminhar até o momento em que enxergue verdadeiramente o que desejei ver. E neste caminhar, é inegociável que ame de todo coração, não se importando demasiadamente se ainda não tenho todas as respostas.

A vida não faz sentido se não for a manifestação da vontade de Deus. Esta conclusão foi para mim um marco, uma vez que, sempre temi render-me. Deixei de temer quando O conheci como a própria Sabedoria que tanto desejo e procuro. Descobri que de mim mesmo não tenho nada a oferecer. Descobri que meus pensamentos e interesses são tão insignificantes que não valem a pena. Quem mais conhece todas as coisas? Depois deste dia, um simples pedido faz-me refletir se porventura é um reflexo do Seu coração. “Seja feita a Tua vontade”, não me assusta tanto quanto antes. Porém, aqui confesso que ainda há um resquício deste temor, apesar do avanço. Falta-me render-me um pouco mais.

Maravilhoso foi descobrir o significado de sua Santidade. Ao contrário de mim, Ele seria incapaz de me envolver em planos, cujos propósitos fossem-me mascarados deliberadamente por falsas impressões. Ele não trabalha com segundas intenções. Ele é puro e sincero. Não há como desconfiar de Sua fidelidade.

O modo como alguns são chamados me fascina. A Moisés foi dito: tira meu povo do Egito. A Paulo foi dito: te pus como luz aos gentios. A Abraão foi dito: sai da tua terra. A Pedro foi dito: apascenta minhas ovelhas. E quanto a mim, seria isto que me falta?

1 comentários:

Gabriela Giovana disse...

Gostei muito desse texto,pude notar um lado seu q eu ainda ñ conhecia :).
Creio q todos nós devemos buscar sempre expor nossos sentimentos mais íntimos uns aos outros,pois,assim,nos edificaremos uns aos outros e cresceremos na tão preciosa fé q uma vez foi dada aos santos.
Muitos cristãos ainda agem dubiosamente,com uma máscara de fé mas um rosto de dúvida,desconfiança.Bom seria se tirassem a maquiagem do rosto e se entregassem totalmente ao Autor e Consumador da nossa fé.
O auge da santidade e perfeição é portanto o amor,sentimento q devemos buscar todos os dias de nossas vidas e a todo o instante.
Paz [e amor].
Gabi.