quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Nem sempre evitei amar

Frustração é o efeito colateral de uma expectativa não atendida... Acho que é assim que me sinto agora. Bem, surgem-me algumas lembranças...

Quando eu era criança, eu tinha um papagaio. Costumava deixá-lo subir nas árvores do quintal durante o dia. Ao entardecer, recolhia-o para dentro de casa.

Contudo, uma das tardes foi diferente. Na tentativa de trazê-lo, o papagaio voou sobre o telhado. Corri na direção que tomou. Nunca mais o vi (Junior, perdoe-me por tê-lo assustado).

Eu não chorei, até que, fui indagado sobre seu paradeiro. A confissão trouxe consigo o choro, a voz embargada e as lágrimas abundantes. Confessar, às vezes, faz doer o coração.


Em outra ocasião, eu tinha dois porquinhos-da-índia. Eu cuidava deles e encontravam-se dentro de uma caixa de papelão. Minha mãe pediu-me que fosse ao mercado. Quando eu voltei, estavam mortos. O cãozinho os matou (Porquinhos, perdoem-me por tê-los deixado sós).


Novamente, as lágrimas surgiram e a dor desabrochou. Eu que tinha tanto amor, tanta expectativa na satisfação que aqueles bichinhos me davam, mas agora...

Após isto tudo, como que as marcas das desventuras tornassem-se um filme diante de meus olhos, percebi que, a melhor maneira de evitar a dor da perda seria nunca tê-los recebido. Naquele dia decidi: nunca mais terei um bichinho de estimação.

Hoje, não tenho outras histórias de bichinhos e dores para contar. Eu estava certo. Nunca mais uma única lágrima verteu de meus olhos quanto à perda de um deles.

Em contrapartida, também não tenho as boas lembranças... o biquinho que me mordia a orelha, o eco da sua voz, a cabecinha com as penas arrepiadas entre minhas mãos ao acariciá-la... Também não tenho lembranças tais como as manhãs em que, antes de ir à escola, cortava o capim para os roedores, a casinha de papelão onde se escondiam, os pulinhos desajeitados e engraçados...

Para não sofrer, evita-se amar. E ao decidir isto, na verdade, matei antecipadamente a quem nunca encontrei. Nunca nos conhecemos e, talvez, este vácuo seja pior que qualquer dor, pois, onde estarão as boas recordações da minha vida? Escrito em 10/02/2011.

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