Sei que já o afirmei, às vezes, surge-me uma profunda necessidade, um desejo ardente de escrever.
Escrever não é tarefa fácil. Alguns dias atrás percebi, ao ler um texto no jornal, que me utilizei de uma fórmula um pouco desgastada na arte de expressar. Senti desgastada por senti-la familiar demais. Um pouco sem graça, diria.
Naquele texto, o autor, ousava um tom melancólico, declarado por ele mesmo, e descrevia sua experiência acerca de um passeio descompromissado pela cidade. Para mim, nada de novo. O texto tinha um gosto de isopor.
Mas, não seria suficientemente insensível para que não o observasse de outro ponto de vista. Se eu misturasse um pouco daquela mesma melancolia, é provável que a leitura me transmitisse a mesma sensação. Creio que falhou em enviar junto ao texto seus condimentos. Não havia comigo nenhuma pitada daquela especiaria no dia em que o li.
Esta experiência fez-me refletir sobre que escrevo e do modo como escrevo. Não quero que meus leitores sintam-se como que mastigassem um pedaço de bucho destemperado.
Li dois livros que me marcaram profundamente. Sucesso de vendas, felizmente emprestados e não comprados. Os dois livros continham o mesmo gosto de talher. Decepcionou-me não a mensagem, mas, como eram travados os diálogos. Aquelas conversinhas lembravam-me uma “tempestade”: sabemos que depois de um relâmpago, ouve-se o trovão.
A surpresa de sua falta gostaria de tê-la experimentado. Esta é a cena: mãos aos ouvidos, cenho franzido, olhos serrados, sem que ouvisse qualquer coisa. Na sequência, perguntaria: que ocorreu com o trovão? E, numa investigação ainda mais acurada subsequente, duvidaria dos meus próprios olhos: fora mesmo um relâmpago? Entretanto, tudo soava previsível, planejado no melhor estilo “apresentação jogral”, ensinado no ensino fundamental.
Aquilo foi um atentado à inteligência e uma crueldade contra a imaginação, pobrezinha. Psicologia pretensiosa na tentativa de melhorar o coração das pessoas. Jograis caem bem mesmo em corais, e ainda, muito bem enlatados, digo, muito bem ensaiados...
Em última análise, quem sabe, esteja sendo rigoroso demais. E se as palavras possuírem mesmo sabor? Esta deve ser a única explicação para tantos sucessos editoriais, uma vez que aceito quiabo, mas não suporto berinjela.
Assim, compreendo o ponto de vista de quem lê e se delicia com o estilo “onde há fumaça há fogo”, primo próximo do estilo “tempestade”, ou quaisquer outros. Afinal, quem pode discutir preferências desta natureza?
Há algumas semanas, encontrei-me angustiado pela sétima arte. Era fim de noite. De repente, as primeiras cenas daquele que fora um grande sucesso de bilheteria, geravam tantos e tamanhos maus sentimentos dentro de mim que me sentia deveras perturbado, tenso e irritado. Alguns o classificam como entretenimento...
Obviamente, sabia tratar-se de uma ficção (dita baseada na realidade), contudo, admito, os diretores e roteiristas estão se tornando cada vez melhores (ou piores), o que requer cada vez mais atenção de minha parte. Resta-me lamentar pelos fabricantes de alicates de unhas. Mas, como aprendi, inventaram o botão liga/desliga, decidi com serenidade, não seria apropriado que aquela película ditasse a maneira como eu acabaria a noite. Foi bom economizar energia, e não me refiro somente à elétrica.
Todavia, não posso culpá-lo (ao filme) tão veementemente, afinal, salas de finos concertos, onde afortunadamente poupam-nos dos palavrões, exercem o mesmo fascínio e efeitos colaterais, amenizados por quebras em movimentos e não por intervalos comerciais. Logo, questão de sensibilidade.
E quando escrever, tomarei este cuidado: enriquecerei de vitaminas a minha receita, pois, caso os temperos não toquem aos paladares, pelo menos, o prato fará muito bem, mesmo que não o saibam.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
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